quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Doença mundana.

Acho que estou ficando doente.
Não quero mais sair, gosto de me jogar por aí.
Não quero socializar com as armas inimigas.
As pessoas me enlouquecem.
Vozes me fazem insana.
As portas do meu hospício.
No placebo humano.
Na palavra pertubadora.
No olhar de morte.
Sedutora à minha dor.
Aponta o meu fim.
Acho que estou ficando doente.
Esqueço de viver.
Não quero respirar.
Existir é um ato involuntário.
O silêncio mortal.
A doença remediária.
Injeção de paz.
Explodem ilusões.
Acho que estou ficando doente.
Doente de ser humana.
Minha herança, a diferença.
Meu sintoma, o grito sincero.
O atestado de óbito apresenta humanidade.
Enterrada pela realidade que me enlouqueceu.
Me adoeceu.
Me matou.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Uma vez pra sempre.

Em um segundo, eu tive um olhar.
O que há por trás, eu quis conhecer.
Em um dia, eu não esperava ninguém.
E quem diria que teria você.
Em uma semana, vi o teu sorriso.
Nunca quis tanto o ter.
Em mais algum tempo, eu tive um toque.
E toda nossa história eu pude ver.
Em um momento, eu tive um beijo.
Eu já sabia que iria acontecer.
Em uma noite, eu tive um amor.
O meu anjo do meu lado há de permanecer.
Em alguns meses, eu ouvi lindas palavras.
Coisas que nunca vou esquecer.
Em um ano, quem sabe,
o nosso amor continue a crescer.
Em um sempre, o meu coração só pede,
que eternos nós continuemos a ser.
Depois de era uma vez, vem um para sempre,
nessa história que nunca vou parar de ler.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Esgotada.

Os olhares.
Não aguento nem o do meu espelho.
As vozes.
Distorcem dores em minha mente.
Os passos.
Seguem o meu caminho.
As ruas que eu gostaria de passar sozinha.
Elas estão cheias. Estão pesadas.
As preocupações me atingem ao outro lado da porta.
Teus pensamentos através dos olhares acorrentam a minha alma.
Eu não quero sair. Não quero as pessoas. Não quero o mundo lá fora.
Meu verdadeiro problema são as pessoas.
Passo o dia só.
Longe de tudo.
Vivendo pelos cantos.
Minha chave empoeirada, não quero ouvir seus ruídos.
Ando quieta para não ter que ouvir nada dilacerando a harmonia do silêncio.
A solidão traz consigo uma sensação de paz.
Tudo o que eu quero agora.
Mente isolada.
Olhos fechados.
Boca calada.
Corpo parado.
Dissecando um som qualquer me trazendo um mínimo sorriso ou a pior tragédia.
Uma pequena sensação de vida.
Enquanto eu tento morrer.
E que a solidão segure minha mão, antes que eu caia em solo mundano.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Minhas mortes.

Ando no escuro, para não ser encontrada.
Sem medo de doer, procurando cair.
Me adoeço com a melancolia.
Me mato com a solidão.
Me mantenho no buraco o qual carinhosamente chamo de tumulo.
E espero o fim dos dias ali.
Eu injeto a agonia em minhas veias.
E a deixo correr por todo o meu sangue.
Me torturo.
Me afogo na minha própria morte.
Bebo o mais lento dos venenos e me embriago com a minha dor.
Me jogo de penhascos por diversão.
Eu estou no meu abismo.
Apenas me deixando cair.
Ignorando qualquer chance de subir.
Esperando a hora de partir.
E eu me drogo.
Sendo minha droga, eu mesma.



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Liberte-os.

Jogo desta torre, as tranças daquela que só quer sentir liberdade.
Os ventos leves que me trazem, além da vida, a vontade de viver.
Os sorrisos suaves, olhares serenos.
Olhar imóvel ao nada. Folha onde se escreve a vida.
Abraçando o nada como se fosse um pedacinho do mundo.
A unica luz que entra na minha casa é a do sol.
A unica luz em meus olhos é a do teu sorriso.
Sorriso que me traz vontade de viver.
Lhe abraçar como estivesse abraçando um pouquinho do meu mundo.
O toque das tuas mãos, o sentimento do amor.
A vontade de sair correndo por aí, junto a ti.
Vivendo a alma destes bosques, jamais os conhecerei por tuas raízes.
Mas anseio conhecer teus limites.
Procurando pelas poças d'água. Mergulhando em alegria.
Sem cuidados, arriscando toda a vida.
Mas o que é a vida sem riscos?
Dançar ao canto dos pássaros.
Morrendo sob as doenças do paraíso.
A todos os fins, de todos os dias.
Para que, em minhas noites, eu possa viver em meus sonhos.
E não viver sonhando.
Enquanto vejo meus sonhos cintilarem na luz da lua.
Daqui, desta torre escura.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Meia-noite.

A noite obscura torna a se esquecer de mim.
A chuva só espia pela minha janela.
E eu apenas observo a correria dos orvalhos.
O medo de abrir a minha porta.
Falta de vontade de encarar aquela câmara de tortura.
Aquela, que no decorrer do dia, anseia por todos os meus sorrisos.
Mas eu prefiro ficar aqui.
E me proteger do que irá me atacar a qualquer hora.
Queira eu, ou não.
Mas até a meia-noite, quero proteger todos eles.
Todos os sorrisos.
Todos os sonhos que irão disparar dentro de mim, após a meia-noite.
E que extraia de mim, toda a felicidade.
Tire de meu corpo cada pouco de vida.
Mas só até a meia-noite.
Pois, depois da meia-noite, vem um novo dia.
Aquele amanhecer que chegará para me cegar e fazer sumir, todas as memórias de uma noite obscura.
E que me restaurará a alma.
E me trará a chance de novos sorrisos.
Mas só após a meia-noite.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Não é bom?

Não é bom?
Ter alguém assim.. em qualquer momento, para olhar nos olhos e.. simplesmente, enxergar todo o teu paraíso sorrindo pra você?
As cenas perfeitas de um filme dirigido pelo amor.
Um filme que só os apaixonados podem ver.
Sem querer, deixar um pouco de batom no rosto.
E deixar as marcas que deixam histórias, geram brincadeiras, fazem sorrisos..
Que são parte do meu amor.
Nada melhor depois de um dia longo, ver uma manchinha de batom que só ele sabe da onde veio.
E sorrir, quando lembrar de mim.
Gravar seu perfume em mim com um abraço forte.
O amor é uma prova do infinito. Está ali antes mesmo do tempo. Pode ser eterno, talvez?
Eterno no mais bonito momento em que depois de um beijo, quando os olhares se encontram, você esboça um leve sorriso, só para ver o sorriso do outro responder a felicidade de estar junto.
Acordar esperando o sol para brilhar nos olhos do outro, ou a chuva para fecha-los num beijo.
E terminar o dia querendo mais dessa droga. A mais forte e mais viciante. A melhor que você pode ter.
E estar feliz.
Por não ter apenas um amor.
Mas sim o amor. O teu amor.
Embora não sejamos os únicos a ter o amor. Mas o amor é único para quem o encontra.
O olhar, o sorriso, o coração. O amor.
E é só isso que importa, se estivermos juntos.
Você, eu.
O nosso amor.
E não é bom que seja assim?

Simplesmente amor.

Um dia qualquer, eu vi você ali.
No seu jeito quieto, teu lindo mistério.
Eu poderia esperar a chuva naquele dia. Contra meu rosto, uma pesada ventania.
Mas não esperava um amor.
Que hoje me deixa repentinamente distraída, de sorrisos bobos frequentes, de risadas incompreensíveis a cada vez que me recordo.
Dos teus toques leves, tão apaixonados.
Teu beijo calmo que me causa arrepios a cada hora que lembro.
Olhar puro que me deixa sem fala.
Me faz falta teu abraço, teu rosto suavemente colado ao meu ombro.
Teu perfume em minha mente, em meu casaco. Melhor a cada vez que o sinto em teu pescoço.
E cada detalhe teu só o faz melhor.
Eu amo você do jeito que é. E amo mais quando está comigo.
Os doces sons que tocavam, as respirações lentas.
O mundo parado ao nosso redor, quando o nosso mundo estava bem ali.
Toques serenos, embora o coração estivesse com toda intensidade.
Intenso. Foi o amor naquele momento.
Sem pedido, nem aviso.
Apenas chegou. Invadiu a alma sem licença.
E pertuba docemente a cabeça dos dois apaixonados.
Aqui estamos nós.
Olhando um ao outro para valorizar cada pedacinho um do outro.
Cada pedacinho, um no outro.
Depois de cada beijo.
Cada disparo no coração.
As mãos juntas.
Os sorrisos simultâneos.
O amor.. simplesmente, amor.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Saí por aí.

Eu saí por aí sem rumo.
Sem a cabeça no lugar, sem uma direção aos olhos.
As ruas eram desconhecidas, os passos confusos.
Os rostos embaçados, não me lembro de nenhum.
As vozes tampouco se manisfestavam, não entendi nenhuma.
Saí por aí distribuindo sorrisos.
Pobre solitária que sou.
Distribui ignorância e esquecimento.
E recebi em troca uma faca destinada a meu suicídio.
Eu sai por aí vendo o sol brilhar.
Pensando que as brisas levariam minha dor.
Pensando que as horas me trariam algo bom.
Pensando que o dia seria diferente da vida.
Sem lembrar que são iguais.
Saí por aí sem vontade de voltar.
E não é o que pretendo fazer.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Boba.

Reviro em pensamentos a minha mente.
Reviro em lençóis a mim mesma.
As lágrimas fortemente atraídas por um travesseiro.
Criança boba que ainda brinca com fogo.
De tanto que me queimo, me faço do cinza do céu.
E o vento podia me levar com ele. Pois eu não quero ver a chuva acontecer.
Leve e seca, assim que quero ser.
E não quero que a chuva venha sobre mim como um peso.
Me prendendo por ele.
Me desmanchando por ele.
A chuva só parece queimar.
Criança boba que ainda pula em poças d'água.
De tanto brincar, fica doente.
Incapacitada de vida, parada numa cama.
Vendo apenas a chuva escorrer pela janela do quarto.
Revirando a cama em agitação, ao desejo de brincar na rua.
Criança boba que fica andando em ruas desertas.
Correndo qualquer perigo.
Sem risco de ajuda.
Se queima, fica doente e em ruas desertas.
Criança boba que acha que irão cuidar dela.
De tanto que não se cuida vai acabar morrendo.
E vai morrer sozinha.


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Um novo dia.

Lembro-me do sol embaçando minha visão.
Acordando todo dia ao som de uma composição.
O sol que a minha janela não mais deixa entrar.
Uma pequena luz que me faz lembrar.
As cores aos poucos se esclareciam.
As gotas de chuvas restantes partiam.
Inércia que me puxava de volta a cama.
Impulso do sorriso que ama.
As minhas ruas, em palavras, traduzidas.
Os primeiros passos iniciando minha ida.
Lembro pelo caminho em que eu ia.
Da nuance dando novas cores a um novo dia.
Não me importando onde estou.
Mas onde eu chegaria.
Da queda, me levantava.
Da dor, me curava.
Os cortes, eu ignorei.
Lembrando do motivo porque me levantei.
Querendo ver o cair da chuva ao dia terminar.
Na escuridão da noite, com um sorriso a brilhar.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Ruínas.

Debato-me contra a cama. Vítima desta insônia.
Parte da guerra de cada dia prevista em pensamentos.
E o silêncio se parte, quebrado pelo som incomum de um pássaro.
Belo canto de um pássaro. Não sei como és, mas sei como soa. Soa belo.
Canta por estar feliz, ou para fazer sorrir a garotinha que agora acorda?
Os cães no meio da rua que tanto latem, talvez não incomodem. Talvez, nem mesmo sejam ouvidos.
Eu, aqui, parada, esperando por alguma luz de esperança, ou um simples filete de luz.
Que ilumine o sorriso, ou somente a casa.
Atrás de todas as nuvens negras, que pouco a pouco se clareiam, posso ver os primeiros raios de sol.
O primeiro brilho no olhar do dia, tão espontâneo, as vezes indesejado.
Invade o olhar, mas não invade a alma.
No entanto, começo a desejar que o vento traga em minha direção todas essas nuvens, resíduos de uma noite depressiva.
Para que o amanhecer de um novo dia as siga em direção a mim.
Mas que seja rápido, antes que fique tarde.
Antes que anoiteça. Pois a noite, as portas se fecham, os olhos se cerram.
E esse é um dia muito bom para deixar de ser visto.
É um dia perfeito.
É só mais um dia perfeito pronto a ser destruído.
Deixando suas ruínas pouco luminosas para quem vive na escuridão.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Hospicio.

As minhas ruas hoje me dão medo.
Porque as luzes amenas, de pouco, esvaecem.
E no quase escuro, meus pensamentos pairavam.
Os passos desorientados impelem ao meu tumulo.
Em qualquer lugar, que meu sangue poderia escorrer.
Mas qualquer calçada inebriante, qualquer tragédia que não existe parecem melhor que minha casa.
Porque hoje minha cama se torna a maca do meu próprio hospício.
Minha falsa consciência se faz minha camisa de força.
Prende contra mim, minhas próprias loucuras.
O coração dispara no receio de parar.
Desespera-se ao ter esperado a morte para correr à vida.
As brincadeiras de mau gosto, devaneios sapecas que me perturbam.
O abraço que agonia quem não tem ninguém.
O castigo daquele que tenta confortar. O amor de quem o mata.
E sufoca, quase morrendo.
Mas ninguém foge daquele quarto branco.
Ninguém.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Garotinha de sonhos.

Eu sou apenas uma garotinha.
Fazendo o que toda criança faz.
Sonhando.
Sozinha no meu quarto, apenas sonhando.
Olhando pela janela dessa torre.
Por trás da janela protegida do quarto de uma criança, sempre há um mundo de riscos.
Um mundo onde os sonhos são realizados.
O primeiro passo depois da porta é quando se deixa de ser criança.
É o primeiro passo da corrida atrás dos teus sonhos.
O verdadeiro desejo de toda criança.
Quando você começa a construir os sonhos. Quando eles deixam de ser sonhos.
Eu fico vendo por trás das grades da janela, todos os riscos do mundo afora.
E por mais que saiba os riscos de sonhar, eu continuo sonhando.
Por mais que eu saiba que o dia de amanhã pode piorar, eu continuo vivendo o hoje.
Quem sabe, as vezes, o importante seja continuar.
Por que parar?
Nem comecei a correr ainda.
Aliás, eu sou apenas uma garotinha.

domingo, 29 de julho de 2012

Ela me disse.

Noite serena aquela, poderia ser o fim de minha vida.
O brilho da Lua, clareava minha pele ao invadir meu quarto pela janela, tampouco aberta.
Deu-me um susto, o celular que quebrara momentos lentos, soando altamente.
Era o som de sua voz.
De sua doce voz, numa entonação extremamente fria.
O toque sonoro, completamente sem vida.
Eu poderia sentir suas lágrimas sob minha pele.
Ou apenas o suar frio do meu nervosismo.
Declarava-me o seu amor.
Declarava-nos o seu fim.
Dizia-me que teria que partir em breve. Sem me dizer o porque.
Quem sabe atrás de uma alma, em razão de um coração.
Desligou o telefone nas palavras doces da voz suavemente morta.
Desligou o telefone pouco antes da explosão bruta que, por muito pouco, ouvi.
E aquele foi o ultimo dia que a vi.
Lembro-me da manhã daquele dia, quando vi seus olhos brilharem ao me ver.
Quando senti seu abraço confortável, seu beijo calmo.
Foi o ultimo dia que a vi.
Mas sei que vou encontrá-la de novo algum dia.
E sei que ela me vê. Sei que me ouve. Sei que está comigo.
Pois é isso que ela me disse que os anjos fazem.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Eu perdi.

Sinto falta do teu amor,
o aceleramento do coração.
De estar perto dos teus sorrisos,
de tocar tua mão.

Dos sonhos que eu sonhei,
os vi quase se realizar,
hoje só tenho lembranças
de coisas que não quero nem lembrar.

Sinto falta dos dias calorosos,
do sol radiante.
Das doces melodias,
da chuva inquietante.

Rostos apagados,
eu não os vejo mais.
Sinto falta da felicidade,
mas já não me volta a paz.

Felizes eram,
aqueles sorrisos inconscientes.
O brilho em pureza
em um olhar inocente.

Vejo meus sorrisos atrás de mim,
toda vez que olho pra trás
toda vez que o vento contraria meu rosto,
toda vez que algo este me traz.

Lembro-me de sentir falta,
Dos abraços, dos carinhos.
Me sentindo desconfortável,
observando orvalhos caminhando sozinhos.

Fotografias picotadas,
memórias em vendaval,
as brisas pesadas contornam meu corpo
levam o bem e trazem o mal.

Queria eu ter de volta,
todos os risos que vivi,
ignorando todas as nuvens que hoje cobrem,
os raios que sem ver, eu perdi.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Frio.

Posso ouvir o zunido irritante do silêncio.
Posso ver a agonia transparente ao nada.
Tudo está frio.
O cigarro se apaga. As almas congelaram.
Diante do olhar gelado. Dos passos sem sal. Do ar de poucos graus.
Eu vivo dos que os ventos me trazem.
Da poeira de ontem, da poluição em histórias.
A música distante soa cada vez mais alta.
E qualquer ruido me incomoda.
Não quero abrir meus olhos, não quero andar. 
Quero me fazer de morta.
Como a criança birrenta que sempre fui, cruzo meus braços em algum canto, faço bico e espero alguém me tirar de lá. O calor da mão raivosa que agarrava meu braço.
Importância.
Eu cresci. Ou talvez, não. Talvez, sim. Talvez.
E isso já não faz parte de meus dias.
Os olhos já não brilham para mim. Meus olhos não brilham mais.
Quando tudo é uma escuridão, sem uma minima luz.
É sozinha que vago por gélidas ruas, deserta de consciência.
Aquela velha e fria esperança de encontrar alguém. Ou serão os frios ventos que me rodeiam?
Devia ter pego um casaco, mas gosto de me torturar.
E me jogo na frieza das ruas, das calçadas que exalam mortalidade.
Devia ter pego os sentimentos também, mas gosto de me matar.
Me jogo sem o brilho nos olhos.
E quando você é escuridão nas ruas, é apenas parte dela.
O túnel sem fim, nenhuma luz.
Atordoada, me perco.
Ninguém se importa.
Porque são ruas escuras.
Porque tudo está frio.

sábado, 7 de julho de 2012

Garota estranha.

Essa garota estranha.
Ela não quer se curar.
Vive da escuridão.
Que está sempre em si a habitar.
Essa garota estranha.
Sempre olhando ao chão.
Deixando suas lágrimas caírem.
E diz não ter coração.
Essa garota estranha.
Sempre sofrendo de dor.
De poucas palavras melancólicas.
Não tem medo da face do horror.
Essa garota estranha.
Se esquiva dos sorrisos alheios.
Se mantém as lágrimas internas.
Tenta não libertar teus devaneios.
Garota estranha.
Não consegue sorrir.
Não consegue amar.
Desorientada, mal sabe como seguir.
Talvez não tão estranha.
Talvez, apenas confusa.
Pobre garota perdida.
Tem a vida e não sabe como se usa.
Um pouco estranha.
Sua voz parece sangrar.
Calada e quieta.
Em silêncio, costuma se quebrar.
Não é tão estranha.
Ainda é bonita do jeito que é.
Espalhando suas dores por aí.
Como todo mundo a quer.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Dias passados.

O mundo se desfaz por entre dedos.
Diante dos nossos olhos, imperceptivel as nossas mentes distraídas.
Um mundo doce, um pequeno paraiso.
Se faz nuvem de sonho nos olhos de uma menina, hoje mulher.E quando olhamos pra trás, só sobram as poeiras, traços da saudade dos dias de ontem.
Um dia lindo, um dia comum.
As lembranças vem, nos fazem lembrar de dores, muitas, mas nos lembram risadas que não voltam.
Sobras, olhares, sorrisos, somem de um em um.
E no lugar, ficam ruinas dizimadas de um passado feliz.
Diante do dia as sombras do passado alegre te perseguem.
De noite, as estrelas se fazem lembranças do céu.
Cada estrela uma memoria, uma lembrança de uma data feliz.
Contando estrelas, lembranças boas surgem novamente.
Um sorriso na voz de alguém, um olhar no coração.
As palavras um dia ditas, jogadas fora, marcam os ecos da mente.
A memoria dos erros, das escolhas, voltam a atormentar.
Escolhas boas, ruins.
Os dias desordenados do diário.
As lembranças contrastando com o vazio do lado.
Um vazio escuro, uma saudade imensa, pessoas que não estão mais aqui, momentos que lhe faltam.
Parece uma vida vazia agora.
É uma vida vazia agora.
De uma mente cheia de lembranças.E os dias desordenados agora.. para onde vão sem os ter?

(Mrs. J e Butterfly - http://feitodeborboletas.blogspot.com.br/)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Incapaz.

Fixação.
Da tristeza em mim.
Das lágrimas ao meu rosto.
Enquanto inalo toda a arrogância que está no ar.
Me preencho do vazio.
Encho minha boca de mentiras enquanto tenho a verdade entalada na garganta.
Sofro calada, pois é feio falar de boca cheia.
Me engasgo, mas permaneço no silêncio, evitando constrangimentos.
E ainda assim, a causa da morte é o sorriso.
Já viu alguém morrer de sorrisos?
Pois é assim que me mato todos os dias.
Segundo por segundos.
E tudo o que me flui são dores.
Sangue fútil, vazio, se vai e deixa meu corpo gélido aqui.
Cheio de dores assassinas.
Mas por estar morta, me finjo não sentir a dor.
Essa atriz mórbida eu sou, sempre os melhores espetáculos.
Cerro minha cortina com a dor do silêncio.
E caminho ao canto escuro, desse palco incapaz de alegria.

domingo, 10 de junho de 2012

Ei criança.

Ei criança.
Pequena criança.
Os raios de sol anunciam tua hora de acordar.
Um novo dia tortuoso está a chegar.
Pegue tuas forças e se apresse para estudar.
Ei criança.
Não vá se atrasar.
Não fale com estranhos, não deixe a rua te amedrontar.
Vá enquanto tua ocupação é só observar.
Ei criança.
Não seja impaciente.
Tens pouco tempo com essa gente.
O tempo passa tão rápido quanto uma pessoa mente.
Criança, ei.
Não brigue, não faça mal.
Se é ruim, não seja igual.
Cada ato é consequencial.
Criança, não!
Não quebre mais as vidraças.
Não deixe que o sorriso se desfaça.
E não permita cair a lagrima que se disfarça.
Criança, veja.
Cresces tão rápido, mais riscos vem a parede.
Suas roupas não mais cedem.
O mundo não tem mais pena de teu pobre coração.
E as pessoas também não.
Criança, preste atenção.
O mal segue teus passos.
Mas mostre do que é a armadura que lhe faço.
Seu corpo é de carne, mas sua alma é de aço.
Ei criança, não há porque de se assustar.
Se prepare, pois terá de lutar.
E a coragem é a melhor arma a se usar.
Mas criança, nunca se esqueça.
Mesmo sendo adulto, não deixe que a criança desapareça.
E que seu sonho se esvaeça.
Pois é frio lá fora.
E em alguma hora,
O sonho para ti será,
o melhor lugar para se abrigar.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pedaços perdidos.

Sanidade inconsciente.
Ela se perde no seu mar de danos.
Se faz parte do seu mundo de insanos.
Se rasga e se destrói.
O seu mosaico de um coração. Se deixando apodrecer e cair em pedaços.
Até que um por um, todos se despedaçam ao chão.
E seu coração nada mais é do que cacos.
Arte de vidro, quebrado em cacos, espalhados com a poeira de memórias ao vento.
Sorrisos dispersos por avenidas alegres, fora das quatro paredes.
Mas sua vida não segue o ritmo feliz da melodia.
Sua alma parece ter fugido, mas não se sabe sua identidade.
Desgraças por piadas, se embriaga com risadas.
Mas sabe que a ressaca do dia seguinte, é a melhor de suas dores.
A porta de casa era um novo mundo, mas em cada esquina, haviam memórias por distrações.
Tão pequena, perdida pelo abaixar das asas de um anjo.
Ela liberta seu próprio demônio. Mas jamais se deixa cair ao inferno.
Seus sonhos a levam ao paraíso. Livra tua menininha pura da escuridão. Dá-lhe asas.
Da escuridão dos olhos fechados. Do dilúvio ao travesseiro.
E ao acordar, é um passeio ao meio termo.
E todo passeio tem sua hora de voltar.
Até que se acabem os passos.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Caixinha.

Por uma luz dispersa, me encontro.
Mas a escuridão encobre meu rosto.
O que vejo não sou eu.
E não sei como se tornou assim.
Mas aos poucos me trituro e vou me tornando mais uma partícula de angustia do tudo-nada ao meu redor.
Essas partículas de mim que não conheço.
Agitadas, atordoam o que se faz em calma.
Difícil conter tanta coisa num lugar tão pequeno.
Mas, por ser variado, se faz grande. E me faz perdida.
Perdida.
No meio de toda confusão a si própria, procurando seu rosto.
Vozes distorcidas nos mais vários do tons me enlouquecem.
Mas eu não consigo distinguir a loucura do normal.
Não consigo distinguir o eu dos meus afins.
E embora minha expressão paralisada transpareça serena.
Ela não é real. Nem mesmo minha.
Eu devo ter me perdido por aí.
E continuo a me procurar.
Mas é difícil me achar nessa caixinha, tão cheia.
Cheia de partículas de mim.
Do eu que não conheço.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Madrugada.

Observo essa madrugada chuvosa.
Dançando com os dedos pelas bordas da janela.
Sinto teu gelo na ponta dos meus pés.
E não posso parar a chuva que ocorre em meu rosto.
O céu dos meus olhos se fecha e inundo meu corpo com ela.
Madrugada, queria ser como ti. Fria.
Tuas dores caem e pesam sobre a cabeça de quem lhe ignora.
Bela madrugada és.
Brilha com estrelas no céu e tua chuva brilha no solo quando se transforma em orvalho.
Posso me ver como ti.
Chorando para todos verem e ninguém se importar.
Repentina e espontânea.
Sem precisar de um porque.
E depois de ti, vem um arco-íris ou um novo dia, quem sabe.
E são novos dias, até que chova de novo.
Sem saber qual será o próximo a receber tuas imparáveis gotas.
Madrugada, porque tanto chora e do nada?
Será porque está ali enquanto todos dormem.
És tão desvalorizada.
Mas fria como é, suponho que não tenha um coração.
Algum dia, poderei me ver como ti.
Porque espero que um dia, eu também não.


Ferro e ouro.

O tempo se passou.
Tão rápido, vulto inalcançável.
Empoeirou meus tesouros.
Tesouros que já não brilham mais, pois o Sol não atravessa as janelas cegas.
Porta de rachaduras infinitas, mas que nunca se abrem.
Um canto escondido e úmido.
Me dá a vida e a sensação de morte.
Eu só queria o Sol para secar as lágrimas de minhas roupas.
Para me fazer brilhar os olhos.
Para me fazer ressuscitar a alma.
Cascatas me derrubam e não me deixam levantar.
Porque tudo não para de cair.
E o tempo não para de correr, e eu o deixo escapar, derrotada por tuas consequencias.
Se eu era de ferro, lágrimas me enferrujaram.
E hoje eu não sou nada.
Desvalorizada sucata.
Mais um pedaço de lata.
Sendo chutada por aí. Sem utilidade, sem valor.
Mas infelizmente, hoje tenho coração. Coração de ouro. Que não enferruja.
Muito valor inútil.
E então chego a uma conclusão:
Ferro e ouro não combinam.
Eu e coração também não.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sorriso de mármore.

Entardece.
Palheta de cores noturnas, afundo a mim mesma na dolorosa tela branca.
São as ultimas luzes que atravessam suavemente a janela e se refletem ao meu redor.
A casa levemente iluminada.
Mas a melancolia que em mim habita é toda a escuridão imune.
E eu me cerco dos meus venenos.
Adoeço, mato e morro por mim mesma.
O sangue para na velocidade da agonia.
Quando o mundo da "menina de meus olhos" depende do gatilho que encara.
Aquele é meu tudo disparado ao nada.
Mas a rapidez do gatilho não acompanha o ritmo de um coração que não aguenta mais bater.
A tortura o muda por si.
Inércia que impede um fim, mas não impede as dores que o destino nos traz.
Nos golpeia e nos deixa pra trás.
Mas o tempo não tem tempo de nos esperar. É tão difícil levantar.
E fingir que as dores não existem.
Esculpe aquele sorriso e os mostra como a exposição que todos esperam.
Mas a dor acaba sendo uma droga que você injeta em si mesmo.
Que corre, queima e explode suas veias.
Mas tudo isso atrás daquele sorriso de mármore.
Mármore que você não quer deixar que quebre, mas também não pode impedir.
Porque, nem mármore nem você, são inquebráveis.
Mas com tempo vem novas artes, novas exposições, com novos valores.
E talvez mais resistência.
Mas nunca usa a eternidade no seu material falsificado.
E tudo isso por trás de um museu de antigas e ocultas lágrimas.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Movimentos mortos.

Me sinto sozinha, mas não estou.
Vejo rostos desconhecidos.
Rostos formados por sombras no escuro.
Distorcem-se até se misturar com o que é trevas.
E se refletem em paredes brancas feitas do vácuo e o nada em seu redor.
Meus demônios me cercam e me torturam por dias.
Dias estes, intermináveis até então.
Sinto a presença da solidão, a falta de alguém.
Estes estão aqui e são minha companhia pelo tempo.
Meus passos sempre acompanhados de um abismo.
Minhas mãos preenchidas por sangue.
As calçadas, as ruas sempre cheias.
Nessa cidade movimentada por almas mortas e faces insignificantes.
E num bar qualquer, músicas sem voz.
Palavras incompreensíveis. Movimento inebriante de vultos tenebrosos.
Tudo o que importa é minha história e o martini que pedi.
Minhas companhias estão aqui, minhas cadeiras estão cheias.
Não, não pode sentar aqui. Tem gente.
Eu não preciso de gente aqui.
Tenho minhas companhias.
Minha dor.
Minha solidão.
Meu sangue.
E a história que nos envolta.
Sempre está aqui.
História que não estou sozinha.
Uma história de que o sangue é meu amigo.
E que na dor, não há perigo.
Essa velha história.

domingo, 20 de maio de 2012

Parei.

Eu não sei de mais nada.
Eu não sei se me importo com as pessoas. Não sei se tenho capacidade de me importar.
Não sei se amo ou se odeio. Não sei se sorrio chorando ou choro sorrindo.
Eu mal sei se sinto algo, ou se nunca deixei de sentir.
Eu não se estou viva ou morta, não faz mais diferença.
Eu acho que voltei.
Voltei aquela vida de morta viva que eu tinha.
Me enganando ao brincar de não sentir nada.
Fazendo meu papel de psicopata, sem arrancar aplausos.
Bons motivos constroem meu inferno.
E pouco me importo com o mundo que me cerca.
Até que alguém quebre essa casca, esta é minha atual teoria.
Por olhos inversos se perdem os versos.
Eu não tenho ninguém ao mesmo que não quero ninguém mas preciso de alguém. 
Eu não tenho nada ao mesmo que não quero nada mas preciso de algo. 
Eu não sinto ao mesmo que não quero sentir mas preciso sentir. 
Eu vivo ao mesmo quero morrer mas preciso viver.
Eu desisti de meus passos, dos meus palcos, topos e quedas. Eu desisti o meu caminho e do meu abismo. De minhas palavras e de minha letras. Meus sons, minhas vozes e meus gritos de guerra. Frente e inverso não existem mais. Eu desisti de viver. Mas desisti demais de mim para me matar.
Eu simplesmente acho que nada vale a pena. Mas como é só uma incerteza eu parei pra algo me encontrar e me dar a certeza do que vale ou não.
Eu parei no caminho. Eu parei as pessoas. Eu parei meu tempo. Eu parei meus versos. 
Eu simplesmente parei.




Brisas de histórias.

Cada tom da minha voz me dói.
Cada toque desfaz minha pele.
É dificil conviver com isso em meio a uma multidão.
Cada lágrima me traz mais dor.
E a dor me conforta. Me tortura. Me diverte.
Boas almas contém corações. Mas me matam suas boas intenções.
Constantes nostalgias do que nunca se foi.
Saudades do que nunca veio.
Meus momentos vem com o vento.
Fins alternativos no pensamento.
Minhas idades se passam em meus dedos.
Me canso de apreciar cada segundo que já se foi.
Que só me voltam com brisas.
Brisas que vem e uma hora, não voltam mais.
E só o céu na sua mesmice, traz suas mudanças ao meu dia.
Mas é dificil adorar algo que você já sabe que vai acontecer.
Esbarro agua contra fogo, pela mesma monotonia a se ter.
E o vácuo da sala me faz um movimento de camera lenta.
Para detalhar cada passo, em meio a escuridão.
Para enxergar cada olhar a lugares desconhecidos por um dia.
O mesmo sangue corre em minha veias. O mesmo coração bate.
As mesmas lágrimas correm. A mesma dor permanece.
A mesma vida de mesma história transcrita em palavras novas.
Mas até quando se encontra um sinônimo para o mesmo?
O mesmo piscar de olhos. Os mesmos segundos de agonia.
A mesma noite em prantos, o mesmo passado de mais um dia.
Os mesmos vultos. As mesmas paranóias da mesma garota louca.
Em apenas mais um dia, da mesma vida dela.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Masmorra.

Quando foi que palavras bonitas viraram lágrimas?
Ou que boas lembranças viraram motivo de tristeza?
Sinto falta dos sorrisos que fizeste presenciar meu rosto.
Das iniciais e corações que ocupavam minhas mãos, agora, vazias.
Das constantes quebras de linhas de raciocínio pela lembrança do teu nome ou tua voz.
Das noites de insônia inebriantes por um coração palpitante.
De história e momentos que um dia inundaram minha mente. Nos quais eu me pegava pensando, repentinamente.
Da tal felicidade que um dia pensei ter encontrado. Ingênua.
Sinto falta de você, da sua alma e coração. Mas parece estar enterrados por baixo de uma areia de uma ilha que eu não conheço.
Me peguei em frente ao espelho com músicas lentas nos pés em ritmo de uma pequena cascata com que castiguei meu rosto.
Lembrando de bons momentos e percebendo então, que fui a unica a realizar nossos sonhos. O que é uma pena... eram tão bons.
Mas puxei as correntes e destruí a parede de um castelo, o qual estive mantendo sozinha com minha vida, por algum tempo.
Não salvei os tesouros, mas não importa. Pois tudo agora é a sua masmorra. Onde estarão eternizados as memórias e dores. Você. Eu. Nós?
Nossa ponte está em pedaços e só há espaço para um.
Não se preocupe, sabes que te amo e sempre penso em você.
Virei te visitar e até lhe deixarei flores quando morrer.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Desastres da ignorância.

Portas trancadas.
Janelas empoeiradas.
Chão sem vozes.
Nada de passos.
Calçadas vazias.
Ruas dizimadas.
Sem som. Sem musica.
Ignorada e esquecida.
Ela caminha por uma cidade fantasma.
Bombas de ódio a fizeram e transcreveram esse momento.
Todos mortos.
Ela, desorientada.
Desastres da ignorância de alguém.
Ela questiona e só ouve o eco por sua mente. De sua própria voz.
Se a guerra fosse uma opção, neste momento, ela havia dito não.
Mas não dá para mudar uma causa, quando já se tem sua consequência.
E atrasar relógios já não adianta mais.
Fotos que derretem rostos. Destroem momentos.
O cenário irreconhecível.
E assim que ela continua.
Apenas esperando a próxima bomba que venha contra si.
Admirar o próximo funeral.
Flores mortas no próximo tumulo.
Tumulo este perdido. Perdido e sem lugar.
Porque agora, o mundo é seu cemitério.
Mais ódio. Mais guerra.
Mais passos.
Apenas esperando a próxima bomba de ódio.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Explosão de dor.

Mais uma série de lágrimas.
Mais uma série de dores.
Mergulho ao passado e enxergo erros transcritos ao fundo da linhas mais tortas e confusas.
A cada erro, meu ou não, uma parte de mim se desfaz e escorre dos meus olhos.
A cada lágrima um pouco de força se vai.
E quando finalmente me desfaço, o meu resto destruído se deixa ao chão.
Minhas mãos correm rosto a cima e se prendem em meu cabelo.
E são muitas dores que tento aguentar.
Apenas tento.
Até explodir.
Explodir em frente ao espelho me permite uma imagem tortuosa.
Minha boca se fecha. Aprisiono minha dor.
Malandra, rouba o brilho dos meus olhos.
Em um piscar de olhos, os vejo em cor de sangue.
Uma poça de sangue sem brilho.
E logo o retoma deixando escapar suas prisioneiras.
E se vai em sangue sem cor.
Sangue por que dói.
Prisioneiras que deixam rastros.
Em meu rosto, em meu travesseiro.
Em meu livro.
Em minha história.
E esta é de mais uma vez que me desfaço.
Me desfaço em pedaços.
Por uma explosão de dor.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Eu, ela.

Em roupas sóbrias ela se monta.
Numa maquiagem natural de um rosto perfeito, eu a vejo.
Em enorme silêncio, escuto sua voz.
No escuro, vejo seus olhos brilharem.
Na raiva, vejo sua beleza.
Na tristeza, vejo minha dor.
Na felicidade, tenho nossos sorrisos.
E só nos falta nosso amor.
Vejo o espectro solar a cada centímetro do seu ser.
E ela os reflete dando o arco-íris a minha vida.
Extremidades por aí, a vejo isolada.
Calma, quieta e calada.
E por mais silenciosa que seja, seus passos me dão a mais linda melodia.
As batidas do seu coração, a batida perfeita.
Certa vez que me vejo nesta sala.
Cheias de manequins. Dançando com a maior variedade de vestidos. São apenas vitrines. Vitrines sem mente. Sem alma. Sem vida.
É como se estivesse sozinho. Mas eis que as luzes do salão se apagam. A balada se silencia.
Posso ouvir aquela melodia. E logo vejo seu sorriso iluminando todo o lugar que apenas para mim se apagara naquela hora.
Os holofotes são meus na hora que me lançou seu olhar.
A festa é minha, quando vem na minha direção.
Ela passa despercebida na multidão.
E, por fim, no beijo nada mais está lá.
Eu, ela.
Só o meu mundo está lá. E está segurando minha mão.


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Corações banais.

Arte desrespeitada.
Grafite inocente pelas mãos de um vândalo.
Vandalismo a alma de um.
Corações não muito diferentes de desenhos e almas por aí. Vazios.
Mais alguns rabiscos seguem alguns sorrisos.
E outros, rachaduras.
Muitos por aí, se desfizeram em cacos. Outros são pó. Alguns não existem mais. Ou nunca existiram. E não nascerão de novo.
Alguns tem a si um pouquinho de cor. Outros contém sua ausência.
Alguns são ingênuos e outros estão esgotados.
E o meu se parou para se importar com o teu.
E aos poucos se esvaece.
E aos poucos se espaireceu.
E aqui estou, caída no meu próprio rio. Raso, para que me atinjam minhas próprias pedras. Para que me alcance o fim rapidamente. Rapidamente ao seu chão.
Rio de lágrimas esse enquanto me recordo de sorrisos. Estes velhos sorrisos incansáveis, que nunca foram eternos.
Sorrisos estes que tive do seu lado, por seus toques, inspirando-me por cada detalhe teu. Que hoje deixo por me matar.
Palavras que me faziam bem, agora me mantém doente.
Deu-me a cura e a morte mais doce.
Não podia lhe odiar, mas agora já não somos um só coração.
Somos duas metade de um brutalmente separadas e deixadas a sangrar. E a maior metade sobrevive. A menor apenas fica ali.
Amando nós dois. Odiando você. Sendo eu.
Aqui estou. Assim estou.

Alvo inocente.

Estava ali parada.
Estava como um alvo.
E como um alvo, foi acertada.
Por flechas que expeliam veneno.
Foi infectada.
Em efeitos reversos, se distorciam os versos.
As palavras nada mais diziam. Nada soavam.
Ensurdeciam as bocas de quem falava.
Um olhar que espalha o caos em um segundo.
Uma voz de ódio, frases de amor.
Retorciam-se os sentimentos, contorcia o corpo.
Torturava-lhe a alma.
E a chuva parecia queimar ao livrá-la de toda sua morte e dor.
Via várias de si por ruas e lugares que não conhecia.
Antigamente, em sorrisos. Hoje, em lágrimas. E o futuro não se via mais. Por não existir sem estar ali.
O amor que a matava, continha a se mesma. Sempre se deixando sob tortura.
Tinha medo do que a cercava. Quão melhor era, mais tinha que se destruir.
De si, não libertava o caos. Não podia destruir a luz que estava ali. Que não via, mas sabia que estava ali. Por vezes, em sorrisos, via a se refletir.
O brilho alcançava as lágrimas, mas não as destruía.
O que aumentava todo o teu arsenal de dores memoráveis.
Esgotada, caiu ao chão.
E estava lá, deitada.
No meio da chuva, parada.
Na rua, largada.
Esperando apenas o próximo carro.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Cada passo.

Isolada em uma sala, dependo de vozes para me mover.
Os passos que me conduzem não são meus.
Pés seguem notas de um piano anônimo debaixo de cobertas.
E eu não ligo.
Sonambula e mistificada.
Apenas não quero saber para onde minha vida vai. Porque já sei o seu fim.
Trago as dores e problemas, armazeno-as em meu peito e liberto-as, deixando que repousem no ar de cada casa. De cada lugar. De cada rua. De cada passo.
Ouço as palavras que se trituram em minha mente.
Destroem meu coração. Mas apenas uma vez.
Pois não podem destruir o que não existe.
As cinzas do destruído sai com as dores e se espalham por aí. 
Vão e voltam por meu corpo mórbido. 
E eu não ligo.
Anestesiada.
Vejo o pó do resto de mim que já se foi. Se diluem em águas tentadoras.
Mas não me deixo afundar nelas novamente.
Observo isso de cima da ponte.
Simplesmente passo por cima delas.
Como sempre fiz. Como sempre faço.
A cada vida, a cada passo.

Acordei bem.

Hoje acordei bem.
As dores haviam passado, as lágrimas haviam secado.
Me alimentei de sonhos e acordei com a luz suavizando meu rosto.
Hoje acordei bem.
Depois de uma madrugada vagando por aí.
Com dores imensas se debatendo por fim.
Com lágrimas correndo por tudo que se encontra de mim.
Hoje acordei bem.
Depois de me machucar.
Depois de sangrar até morrer por dentro.
Depois de me matar.
Hoje acordei bem.
Ao escrever palavras de angustia e agonia.
Depois de não querer ver um novo dia.
Revirando na cama, a noite o trazia.
Hoje acordei bem.
Ao sonhar com teus sorrisos.
Alegria tardia.
Se refletiu no meu dia.
Hoje acordei bem.
Lembrando de todos os momentos.
As noites ao relento.
Os beijos mais lentos.
Agora está tudo bem.
Lembrando apenas do ontem.
O passado que me contém.
E o que você destruiu.
Mas hoje eu acordei bem.
E isso é tudo o que importa.
Até que eu esteja morta.
E não possa mais acordar.
E você não possa mais dormir.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Partículas de luz.

A calma. Me acalma a lentidão de cada segundo.
Os amontoados de cada partículas. Por imaginação, por pouco consigo as enxergar.
E então vejo o mundo de vidro que formam.
Vejo o sol sendo censurado injustamente por alguns prédios injustamente, ao tempo que ainda luta pelo teu lugar nos brilho dos olhos de uma pessoa qualquer. Clama por tua atenção.
Mas nesse mundo, só habito eu.
Deslumbrada por tal paisagem, saio de mim e só vivem os meus olhos.
Sons de um programa da tarde qualquer. Mas eu não dou a minima. Posso ouvir os sons daquela imagem.
E algo tão rotineiro, consegue ser tão perfeito.
Uma obra de arte rara, fora de tela.
Que tampouco brilha através de algumas camadas de janelas.
E ainda consigo ver uma dança mágica entre cada de várias partículas de um raio de sol.
E consigo sentir um sorriso, que levemente esbarra em meu rosto e o contagia, se fazendo ao que se desfaz em seu meio. Mas eu não dou a minima. Vejo o sol sorrindo pra mim.
Hipnotizada, parto em passos em direção a um paraíso cotidiano.
E sem tirar os olhos da tinta, dou o acabamento da mais bela pintura que já vi, feita pela natureza.
Me liberto deste mundo de vidro, em paredes quebradas liberto-me a alma, liberto-lhe os raios fazendo de mim tua vitória-régia.
E me deixo mergulhar e afundar em teus raios ao me encontrar em pontes que não existem.
Roubei um pouco de tua atenção. Iluminaste meu sangue. Foste o caminho para minha alma enganada.
Mas acalma-te. Terás teu brilho de volta amanhã de manhã.
Por que todos tem seu final feliz.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sozinha.

Despertei num horário anormal, acordei sozinha.
Andei pelo vácuo da sala, pelo vazio dos quartos.
Senti o gelo do chão, só ouvi o som dos meus pés ao tocarem os azulejos.
Uma goteira vinda da cozinha, o ranger das portas..
E cada passo expulsava e afastava uma multidão que já estavam a metros de mim.
Abri a janela deixando entrar um dia cinza.
Senti o vento gelado bater em meu rosto, mas não senti frio.
Deixei por mim mesma ser invadida por melancolia deste céu nublado que por mais tarde promete a chorar.
Invadida por tristeza que me rompeu o muro de indiferença, deixando vazar toda imensa dor contida. Me deixei inundar por dentro. Mas por fora são as mentiras que montam minha mascara.
Passei maioria das horas sozinha.
Não havia o que viver nem a quem tocar. Com quem falar ou quem ouvir.
Me deixei levar um pouco por algumas melodias vindas de cordas de algum violão distante.
De voz, só ouço a minha.
A minha que quer se calar por não ter por quem ser ouvida.
Vi poucas pessoas passarem por mim. Não senti ninguém.
Me isolei num mundo de quatro paredes e de uma só habitante.
Nenhuma mensagem, nenhum telefonema.
O cinza refletido em minha janela. Não há lugar algum.
Nenhuma causa de sorrisos, nenhum fim de uma dor, ninguém para impedir um gatilho.
Nenhuma guerra e ainda assim, nenhuma paz.
Meu espelho não consegue ocupar o lugar de alguém. Ele não fala comigo.
Será que ninguém citou meu nome na minha ausência? Será que alguém sabe da minha existência?
Fiquei trancada aqui. Vendo apenas o cinza iluminando a si próprio por pequenas frestas de minha janela. Senti dores. E senti sozinha.
Um coração sozinho. Uma vida sozinha. Vida?
Tudo o que eu tenho, são dores. Mas não há quem tenha essas dores.
Porque ninguém se importa. Porque ninguém se lembra. Porque não há ninguém.
Porque estou sozinha.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Topos e holofotes.

A dor em meu peito acorrenta quaisquer palavras em minha garganta, bloqueadas por um nó de lagrimas nunca reveladas, jamais podendo fluir.
Num mundo imundo perdido, jamais veremos novamente a luz. Talvez por que não abrimos os olhos, ou talvez porque ninguém deixa-nos abrir.
Ouço doces sons, melodias suaves perdidas num céu infinito que agora me envolve em escuridão. Como aquele cantinho frio de meu quarto, as ruas se tornam o refugio de minhas lagrimas.
Até onde e quando isso vai dar? Percorro minha ou nossa caminhada?! Ou sobes, ou você é a escada.
E de cada passo lento que dou, minha escada se desfaz, me derruba de meu pedestal. O tempo corre, a vida corre, as pessoas correm, falta de ar. Me sinto desnorteada. Vivo em vertigens.
Toco sua mão, você some. Por que agora alguém está apoiado em meus ombros? Um movimento brusco, e sou esmagado por inúmeros sonhos inalcançados.
Me toco ao chão, me sinto o impacto. Deixo minha mão escorregar em meu rosto, capturando a ultima lagrima que, como orvalho, escorre em meus dedos...
No fundo deste poço de sonhos, vejo almas mortas, as bases dessa escada injusta. Por quanto tempo algumas pessoas terão de aguentar o peso do mundo em seus ombros?
A recusa do meus pés atrofiados, cravados ao chão, de levantar. Tento com todas as forças, não sei mais de onde forças tirar. E por mais que tanto eu tente, jamais é o suficiente.
Visualizo sonhos materializados de imaginações e visões distantes, hoje quase inexistentes. As deixei escapar.
E num choque de realidade, a imagem solitária na minha frente faz com que a primeira lagrima escorra.
Minha vontade é me deixar levar por qualquer correnteza ingênua. Até onde eu pararia, ao menos se quisesse tentar?
Num lugar de sonhos tortuosos, talvez. Mas a dor nunca me teve de algo tão bom..
Como criança, me machuco e teimo em repetir o erro para sentir as melhores emoções da dor.
Dentre frestas da fechadura, são pequenos raios de sol que fazem cintilar um risco estreito de sangue.
Tenho que abrir a porta para mais um inicio da mesma vida.
Tenho que abrir a porta e me livrar da escuridão.
Mas privo a mim mesma da chave.
Tenho que abrir a porta para ver cintilar mais um caminho estreito. Um que eu possa trilhar com meus pés, e não, com lâminas.
Trilhar um caminho de luz.
Porque não há nada de um palco, sem seus holofotes.
E não há nada dos holofotes, sem algo a iluminar. Que iluminem então cada passo de um espetáculo.
E só depende de mim, abrir a porta.

Te ter aqui.

Como eu adoraria te ter aqui.


Te ver chegar de um dia cansativo e deitar exausto na cama. E então, delicadamente, eu deitaria sua cabeça no meu colo e entrelaçaria meus dedos no seus cabelos.
E então você abriria seus olhos e sorriria, pois veria que estou sorrindo. E só nós entendemos nossos sorrisos.
E depois de um tempo juntos, sem nenhuma palavra dita, mas de gritantes olhares, você levantaria e colocaria seus braços em minha volta. De gestos se fariam as melhores palavras. Numa tentativa de charme, tiro seus braços levemente de meus ombros e sairia do lugar. Minha ausência recente te conduziria aos meus passos.
Você viria me procurando e me veria isolada num canto, apenas te esperando correr atrás de mim, feito uma criança birrenta. Viria até mim, levantaria meu rosto suavemente e me daria um beijo suave. Pegaria minha mão e abriria a porta para me levar a algum lugar.
Me levaria ao quintal, onde iriamos conversando enquanto horas passam. Você é meio idiota, sabe? Me faria rir. E eu te chamaria de bobo. Porque você é. E você me chamaria de chata. Eu devo ser, né? E daí eu te empurraria e você voltaria pra me agarrar e bagunçar meu cabelo. Gosta do meu cabelo bagunçado?
E de tanto conversar distraídos, bate a hora perfeita em que o sol se põe. As cores intensas, aquele brilho incrível. Obra de arte momentânea e diária. Mas nunca foi tão especial. Não pelo momento, ou pelo paraíso diante de nós. Mas pelo jeito que ele brilharia em seus olhos, quando você me olhasse daquele jeito. Você sabe.. aquele jeito. Que me irrita por me deixar sem graça. Esse jeito.
E daria a ultima olhada na paisagem, antes de você me fazer fechar os olhos. Simples olhos fechando, um simples toque de lábios, um simples bater de corações. Simples três palavras vindas da tua voz que tanto me irrita.. Isso tudo nunca seria tão perfeito se não fosse com você…
…Se eu tivesse você aqui.
Como eu adoraria te ter aqui.

Doces sonhos.

Posso ver cada detalhe de sua timidez. De seu sorriso timido.
Cada detalhe de cada angulo do seu olhar.
E vejo isso tudo em camera lenta.
Um dos mais lindos filmes que me faz sonhar.
E falo tudo isso como se fosse perfeito.
E não é. Porque se fosse perfeito, não seria você.
E se não fosse você, eu não amaria.
Não há como amar alguém sem seu jeito, suas manias e seus erros.
Lembro de tuas palavras em vários momentos.
De tantos momentos, insuficiente fica minha memória. E permite que as lembranças rompam barreiras da minha mente e se desfaçam em sorrisos. Sorrisos incontroláveis.
Até mesmo quando são momentos ruins, me vejo esgotando-me em risadas. Porque, quando é possível amar, parece tão estupido ter momentos ruins.
No meu mundo de sonhos, és o elemento principal.
Pois não há sonho ou realidade que eu queira passar sem você.
Ouço sua risada como a música mais repetitiva da minha lista.
Fico vendo suas fotos como um album que eu queria que não terminasse e se prolongasse com minha vida.
Fico lembrando de nossos momentos como os melhores dias que me acontecem.
Lembro do seu olhar como o primeiro raio de sol de cada um dos meus dias.
Lembro do seu sorriso como a maior fonte de felicidade que já tive.
Ainda sonho com teus toques sendo ainda os ultimos de minha vida.
E se meus sonhos não se realizarem.. pelo menos um deles passou por mim.

Nostalgia indevida.


Uma pequena dose de gritos agonizando em silencio. São apenas sonhos.
Me arrepio.
Minha pele receia poros transbordando uma dor já conhecida.
Uma parte de nostalgia. Nostalgias de memórias indevidas.
Aperto minhas mãos em sinal de sufoco.
Me sufoco em controle.
Vozes aprisionadas, as ouço gritando em minha mente.
As ouço gritando minha alma.
Gritando em meu coração.
Silenciadas ao meu olhar de lembranças negras.
A escuridão rotineira vem conforme o sol que se põe.
Me pergunto tantas coisas. Me respondo com mais perguntas. Me perco em palavras. Me mato de pensamentos. 
Minha mente, minha doença, minha cura.
Desvio de direções, olhar lento. Movimentos angustiantes.
Mas é isso o que há. Angustia.
Mãos em impulso. Raiva, ódio, dores.
Numa guerra de um só, todos se ferem.
E penso naqueles sorrisos, agora distantes, tão instantâneos, a algum pouco tempo atrás. Tão leves, bonitos e espontâneos.
Belos, embora a cara de sono que me acompanhou de manhã.
E penso neles, enquanto a mais recente das lágrimas trilha minha face.

Rotina paralela.

Abro os olhos e desperto da cadeia de sonhos em que me pus. Levanto. Tonteira leve anuncia um novo dia.
Pode ser apenas mais um. Pode terminar incompleto.
Dos pensamentos desvio, mas eles mantém a insistência de me perseguir.
Nos primeiros repetitivos passos, me vejo. Me vejo, em tudo do que não passa de rotina.
O ar, arrogante que se faz, contorna minha silhueta, me dando apenas um pouco de si e então se vai, deixando que o calor faça pesar a vontade sobre meus ombros. Deja vú.
Abro a janela e deixo os mais suaves fantasmas entrarem. Observando o infinito azul, me mergulho num lugar de sonhos com a ilusão de olhos atentos.
Num lugar, onde sonhos nos fazem felizes e a felicidade é preservada. Algumas palavras desse mundo, escapam de minha boca, leves. Algumas emoções pouco mais intensas, que violam este lugar, correm por meu rosto.
Algumas histórias se traduzem em toques, se permitindo refletir na ponta dos meus dedos.
E então, sou retirada brutalmente de lá. Me obrigo a expulsar-me de paraísos. Para um mundo onde o paraíso ainda é uma questão. Onde sinto falta da vida que meus sonhos me são. Mas, ainda tenho no coração a certeza de que lá me recupero a alma em alguma hora, mais tarde.
Mãos entrelaçadas, um quase sorriso no canto da boca, respiro as ultimas forças.
Para poder enfrentar o resto do tempo.
Para poder fechar os olhos ou fechar o alheio.
E voltar a sonhar por dentro dos dias.

Arte de passos.

Viajo mentalmente por ruas desertas sem sonhos. Sem memórias. Alguns pesadelos dispersos, talvez.
Inocente, perdida, vejo multidões sem face e sem alma. Meu único refúgio é o meu interno.
Meu corpo, todo decorado de lembranças.
Olhos cheios de expectativas. Coração, de esperanças.
Alma, de mente e mente, de vazio.
Vejo olhos sangrando escuridão.
Pés sem rumo, procuro mil universos sem sair do lugar.
Caminho por estas ruas, por penumbras, me escondo por becos, a fim de alguma risada ilusória.
De vez em quando, sorrio. Mas o que há por dentro de mim não são sorrisos.
Caminhada de passos intermináveis, meus pés torturados, se deixam esvaecer a dores por cada calçada.
Se levam com a poeira. Mas sempre voltam aos meus passos.
Minha embriaguez de mascaras, me infiltro em qualquer lugar. Conheço um pouco mais daquilo que me injuria.
Já perdi de todos os sonhos, a chance de um dia feliz. Há muito tempo, sei de sua inexistência.
Mas do meu sonho que me segue, há sempre alguém com uma alma de sorrisos que me dá forças para eternidades sem identidade.
E então, sigo. Nessa arte de passos monocromáticos.
Me fazendo de pó, me desmanchando nas estrelas.
Sempre espalhada por aí.
Sempre por aí.

Oceano de tinta.

De um papel qualquer, extraio a minha vida em forma de lagrimas cor de tinta. Sem vida, se rasga. Sem vida, não é nada. Sem vida, não sou nada. Enquanto extraem de mim, a sensação de estar viva.
Oceano negro, te observo. Tu que carregas tantas canetas estouradas e borrões diluídos de corpos anônimos. Tão imenso, ainda é capaz de guardar a si tua vida, existência e pouco de tua pureza. Sorrisos estes, brilhos de perolas ao seu fundo.
E é a sua beira, que reflito e procuro minhas pérolas, então, furtadas.
Sinto o sol lentamente fulminar minha pele. É como uma das mais dolorosas das artes. Não importa muito a mim, se por dentro já me sinto em chamas.
Um vaso que carrega cinzas.
É só a casca com o que resta de mim. O que foi destruído e nunca será restaurado. Porque ninguém se importa. Mas eu também não.
Largada numa ilha para ser resgatada. Mas nem tudo é como queremos e fui posta a morte.
Membros e sentimentos amputados. Amaldiçoada por mim, para testar a minha capacidade, que não é pouca. Testar a mim mesma e o valor da minha própria vida.
Mas ninguém se importa.
E sem vida... nem eu.
Não quero. Não posso. Não vivo. Não morro.. não me importo.
Disseram dessas, as ultimas palavras da caneta que caiu de uma mão gélida, espalhando apenas mais uma mancha no oceano de tinta.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Uma.. nossa história.


A base de uma musica romântica, eu me pus a imaginar.
Uma dança num lugar calmo, qualquer.
Cada passo tão inocente, tão suave.
Seguindo aos poucos o ritmo.
O toque do teu corpo ao meu, uma vontade boba de recuar, então ignorada.
As melodias, palavras inertes espalhadas no ar apenas por olhares.
Aqueles olhares querendo desviar-se de timidez, mas ainda assim fixados.
Uma admiração, um desejo.  Corações maravilhados por estar segurando as mãos do paraíso.
Deslizar meus dedos sobre teu rosto, um sorriso de leve, um brilho nos olhos.
Meu cabelo caindo desarmonicamente sobre meu rosto. Sua mão levando eles ao lugar certo. Distancia se esvaecendo. Arrepios anunciando a presença. A junção de dois corações. Um toque de lábios tão mágico.
Eu voltei ao lugar onde nos conhecemos. Batizei nossas lembranças dos apelidos que nos demos.
Uma nostalgia.
Uma dor que me fez sorrir.
Quero teu olhar, quero tua presença.
Quero teu beijo, quero tua voz.
Quero sua letra em minha historia.
Quero sua invasão em meu particular.  Quero suas ilustrações em meu livro.
Seus rabiscos nas minhas paginas.
Sua mão na minha.  Sua presença em meus sonhos, em minha vida...
Nossas brincadeiras infantis, nossos sorrisos tão ingênuos escrevendo a mais linda história de amor que ainda espero por ler.
Qualquer brilho magnífico da lua, ou maravilhoso por do sol, não é nada especial se houver um lugar vago na platéia de tal espetáculo.
Suas palavras envergonhadas, sua presença tão pouca que seja, seus sorrisos suaves carregando o mais pesado dos brilhos fizeram minha alma voltar-se a vida.
Afundando em um oceano, seu toque me salvou. Sua respiração me deu o ar, que seu olhar me tirou.
E desde então, venho escrevendo muito lentamente e aos poucos um livro de muitos capítulos, mas de nenhuma cópia.
Meus planos reviram minha mente ao anoitecer, semeiam em minha face as mais gostosas das risadas.
Estou feliz. Por ter você. Em minha vida, em minha história.
História de muitos volumes, conflitos e reticências..
E espero que eu possa fechar este livro com o mesmo sorriso que comecei a ler.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Confortável.

Atormento meus passos, já não os sinto mais.
Mas um turbilhão de dores me desintegram por dentro. E não posso mostrá-los.
Não quero abrir a boca, pois posso gritar.
Não quero fechar os olhos, para não chorar.
Não quero abrir o coração, não quero sangrar.
Culpa dos teus atos, sou inocente.
Daquele liquido rubro que um dia correu, por um tribunal injusto de teus gritos que ecoavam em minha mente.
A dor sufocada em travesseiros, num quarto qualquer representando meu inferno.
E por onde passo, o mundo se desmancha em escuridão. Em vácuo. Em vazio.
Nada diferente, apenas não aparente diante de olhos cegos por agonia.
Cada toque, ruído me trazem o mais angustiante dos abismos.
As maiores quedas. As dores mais intensas. As mortes mais lentas.
E tudo isso, em silencio.
Me torturo afim do teu perdão. De voltar a suplica por um pouco de amor. Aquele inalcançável.
Me conforta essa rotina de dores. Me mata ter apenas a ela como opção.
As cicatrizes, as marcas. Todas passam.
Mas memórias me matam a cada segundo, até que eu seja apenas uma delas na mente de alguém qualquer.
Até minha imagem do espelho, parece querer que eu sofra.
Tudo me causa dor.
Vejo sorrisos e eles me doem.
Meus sorrisos me doem.
Será que estão zombando de minha dor? Será que estão felizes por causá-la? Será que querem derrotá-la?
E num horizonte de espaço extremo, tudo se desliga. Meu corpo do mundo. Minha alma do corpo. Minha mente de mim. E eu de tudo.

Apenas buscando um lugar confortável, para guardar tudo isso, aqui.

domingo, 18 de março de 2012

Psicopata apaixonada.


Observando seus passos, ela ficou lá, sentada.
Naquele bar, tomando o de sempre, observando.
E ficou pensando naquela conversa que tivera a alguns segundos atrás.
Observando sua imagem desaparecendo na esquina.
Já não queria mais tocar no seu cigarro, pois ele lhe dissera o quão era repugnante.
Largou o copo de whisky, seu preferido. Naquele dia, ela tinha outra preferencia.
Observadora e detalhista. Nunca esteve tão confusa.
Nem se lembrava do que conversavam.
Estava com a mente distante, observando cada detalhe seu. Respostas automáticas na ponta da lingua.
Aquele olhar tão lindo, aquele jeito grosseiro, aquela sinceridade irritante.
Aquelas atitudes inesperadas, as palavras tão novas, o previsivel tão imprevisível.
Passava o dedo no topo do copo de cristal. O cigarro ia queimando, as cinzas iam caindo.
E embora tudo parecesse tão normal, algo havia mudado.
Sentia uma angustia ao tê-lo perto. Uma dor ao tê-lo longe. E incrivelmente, não queria tirá-las de si.
Sendo ruim ou bom, era tudo tão perfeito.
Seu sorriso a acalmava, sua voz a irritava.
E o que era isso, ela não sabia. Essa questão que torturava em mente.
Seu corpo tão morto, sua alma monótona.
Sem sentimentos, ela nunca se importou. Não havia dor, não havia amor.
Sentimento era uma palavra que ela excluira de seu dicionário. Algo que excluíra de si.
Suas memórias eram tudo que lhe restava. Mas nada mais lhe interessava.
Seus dias de cor cinza, sua rotina tão chata. Mas ela não se importava.
E pela primeira vez se viu cheia do que não eram apenas pensamentos. Eram algo que lhe confortavam. Eram algo que a intrigavam.
Seu amor já causara tanta dor, tanto ódio, tanto caos. E uns pequenos arranhões a si. Dizia que o amor não era algo para ela.
Nunca gostou dessa história de sentir. Sabia os perigos. Nunca se importou com ninguém. Mas enfim, deixou-se levar.
A imagem dele. Do seu sorriso. Seu cheiro gravado na sua mão em gesto de despedida. Seu olhar cravado em sua mente.
E por mais que estivesse queimando-a por dentro, sua teimosia a impedia de admitir.
Mas era tão óbvio que irritava a si mesma.
Seus olhos se perderam na imagem que se perdera deles.
E na volta a si, o dia já não está mais lá. Todos se foram e um toque no ombro a acorda.
Recolheu sua bolsa, pagou a conta e se foi.
Seguindo os passos daquele individuo intrigante. Aquele ser, teu amado.
Carregando em um empoeirado coração, algo novo, uma emoção.
Retirada sua mesa, é sua imagem que desaparece na esquina.
E então as ultimas cinzas, do ultimo cigarro se permitem a queda.

sábado, 17 de março de 2012

Encruzilhadas do coração.


Desde, o patético momento em, que os olhares se cruzam jamais se separam.
Não importa o quando de ódio exista entre eles...
Não importa a distância que eles estejam...
É como uma fotografia, por mais que o tempo passe, ela continua do mesmo jeito, apenas envelhece...
Se eu pudesse parar o mundo, por uma hora, eu iria até você.
Se eu pudesse atravessar o tempo, para te ver dando seu primeiro sorriso, eu iria até você.
Se eu pudesse... Te ver chorando por amor pela primeira vez, eu iria te consolar.
Por que você está tão distante de mim?
Por que o mundo é tão cruel com meus sentimentos?
Eu te vejo sorrir para mim, então eu sorrio para você. No meio de tanta timidez, meu coração floresce o suficiente para te amar.
Queria poder pegar sua mão, e passear num parque em pleno frio. Apenas nós dois, de mãos dadas. E então eu te abraçaria. E daria um sorriso com meu coração. As flores mortas pelo frio dariam origens a novos botões. A grama congelada mostraria seu brilho. Então eu quebraria o frio, com meu ligeiro beijo em sua boca.
Nunca me deixe ir.
Ao menos que eu esteja seguro, que você ficará bem.
Estamos tão distantes. Você parece estar em outro universo tão distante... E eu em outra dimensão. Queria poder pular num buraco negro que caia no seu quarto, e lhe fazer uma surpresa: “Adivinhe quem é?!”
Queria ter a chance, de pelo menos uma vez, sentar do seu lado, e deitar no seu ombro.
Sentir o seu perfume.
De te ver acordar, do jeito que estiver. Sempre vou te olhar, e ver que tudo isso é meu! Somente meu.
E um dia farei tudo isso. Você foi o único que não tentou juntar meu coração com curativos... Você curou-o com seu amor.
Ei, eu te amo. Como as folhas do outono caem, meu amor por você é como uma árvore. Ele pode sempre ficar frio e sem folhas, mas depois de um período as flores, folhas e frutos renascem de uma árvore morta, e mostram sua luz ao mundo.

                                                                                       (Jho Brunhara)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ruas suicidas.


Entra. Fecha a porta e grita em almejo de liberdade mental.
Senta-se. Passa seus dedos trêmulos e os entrelaça nos cabelos por angústia.
Sua vida vai caindo a cada momento atormentador, num abismo sem fim com a dor de atingir o chão.
Na correria, pega algo e sai porta a fora.
De cabeça baixa, mãos nos bolsos, desacelera o passo. Sua vida em segundos reviram sua mente.
O telefonema daquela empresa que nunca chega, seus problemas, dores, acumulando e não ter onde deixá-los escapar.
Não ter pra onde escapar.
"O que está acontecendo?"
De canto dos olhos, se vê no seu sonho de infancia refletido no sorriso de uma criança.
Sorri. Mas o que há pela frente, é muita escuridão para pouca luz. Apaga-se o sorriso.
"O que está acontecendo?"
E por toda a cidade, anda com pernas quase se quebrando, dolorosas na intenção de flagelo, mas sendo diluído pelo brilho dos olhos de outros.
Os jovens que se amam, as crianças a correr. As risadas, os olhares apertados por sorrisos.
Tudo isso a conforta ao tempo que a mata.
Olha então para seus pés e realiza. Tinha seu unico objetivo de viver e fracassou. Deu a perceber sua, somente, existencia.
Se já estava no fim, só lhe restava o ultimo ato.
Se vê, então, numa rua sem saída. Se vê no fisico da sua vida. Rua deserta, palco vazio, siga a voz secundária do roteiro. Faça o que ela diz.
"O que está acontecendo?"
Pela ultima vez, seu protagonista, ainda confuso, repetiu.
Pegou sua passagem para o fim. Pôs levemente em sua boca e, com um barulho alto mas não tão estranho, tudo se desapareceu. Ainda se deu o ultimo sorriso.
E aquela frase que tanto ecoava em sua mente, logo, escorriam numa parede qualquer. Breve, entalhadas em uma pedra, talvez.
Um telefonema, boas noticias na ponta da lingua de alguém.
Batidas na porta de mãos que seguem flores.
Mas ela já não está mais em casa.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Perfume súbito.

Já não se faz mais livros como antes.
Os contos de fadas não tem mais seu roteiro e sua tradição.
Anos de passos de dança repetitivos e cetim jogados fora.
Já não se sabe onde mesmo se posiciona suas virgulas, suas reticencias ou pontos finais.
Não se sabe pra que servem e o que fazem as palavras.
As frases e suas lagrimas e sorrisos, acompanhantes.
O primeiro toque de mãos naquele lugar já não mais frequentado, olhando para aquelas paredes, aquela falta de ar alegre, a falta de palavras que tanto fala.
A essencia de tudo que já se passou.
No escuro, adormecida em memórias, apenas passo a lembrar, imaginando uma telepatia inexistente com o mundo que havia naquele tempo.
Revirando fotos uma por uma, que parecem cair tão lentamente quando as jogo pro alto.
E observo cada detalhe que não havia percebido naquele momento.
O batom que realça meu sorriso no rosto de alguém.
As loucuras, os extases, tudo aquilo que já se foi.
Que se foram os sorrisos, as palavras, as emoções junto com frases algumas desperdiçadas, outras valeram a pena.
Algumas estão no tumulo de alguém, outras está na mente de outra pessoa que forma uma nova vida. E tudo que já significaram estas palavras...
Aquele perfume que me lembrava você, porque te fazia lembrar de mim, até hoje sei que está na sua camisa e no meu frasco, não há mais quase nada de memórias..
Então quebro aquele pequeno frasco no qual se resta as ultimas gotas daqueles tempos. E então, passo os cacos na minha face e em meu corpo.. Para ter aquele cheiro de novo e me corto deixando meu sangue perfumado correr sobre mim, tão rápido como se foram aqueles dias...
E de volta ao chão, lentamente vejo minha identidade e minha história se espalhar.. Todo aquele sangue que correu comigo todas aquelas histórias.. Que horas ferveu e horas congelou.
Ninguém tem uma morte lenta e dolorosa.
Só estamos completamente mortos no unico momento em que o livro se fecha.
E de todos os momentos súbitos da minha vida...
...esse foi um dos mais emocionantes.

Coagulação.

Cortes na vertical, diagonal. A estrada pro sofrimento.
Cortes sobre histórias, cortes sobre lamentos.
Lágrimas a escorrer, e a formar um riacho de sangue.
Lembrar-se do motivo é o mais lamentável.
As palavras, lembranças e a dor cessam enfim.
Os cortes transcendem no pulso, o que um sorriso disfarça.
Não olhe para trás. Disfarcem os cortes, mas o rastro de sangue sempre fica atrás, seguindo-o. Quem dera tentar, novamente um pulso sem marcas, e um coração sem dor. 
Jamais imaginei que isto era melhor que sofrer, pois o sangue que escorre esvaece com as lembranças deixadas pelo sofrimento.
Os cortes ardem, e você a chorar. Esqueça o motivo. A lâmina no chão, o sangue a escorrer. Um perigo lhe aguarda.
Paraste enfim de chorar. Começa a adormecer.
Para alguns essa é só a primeira de muitas outras vezes, e para outros, essa é a última de muito sofrimento.
As lembranças esvaecem com as marcas deixadas em você.
Mas seu coração nunca esquece o que seus olhos viram.
Seu pulso cortado. Seu sangue a coagular.
Um olhar ingênua para quem pensa que foi só um machucado.
Uma dor intensa para quem agora, tem seu coração, por lâminas, marcado.

                                                                                                (Jho Brunhara)

sábado, 10 de março de 2012

Arrogância da Harmonia.

Como se cada sorriso sugasse um pouco de vida.
Como se meus gritos escapassem pelos meus poros.
Como se a dor fosse um passatempo.
Chega a um estágio de tanto ódio, em que o amor começa a queimar.
Como se tudo isso foi apenas mais uma brincadeira. Como se a dor me fizesse sorrir.
Quando sorrir me causa a dor.
Encolhida nesse canto, de roupas pretas e longas, me torturando mentalmente.
Faço de tudo para que essa sensação horrível passar, ao mesmo que ela me conforta.
Deixo que a água lave essa angustia, mas é como se ela não tocasse meu corpo.
Desviasse e evitasse de me curar.
Ouço músicas ao tempo em que qualquer ruído me enlouquece.
Meu telefone ao meu lado, uma esperança de uma ligação, só para ter a quem dizer que não quero falar com ninguém.
O observar daquele orvalho a escorrer numa folha, a impaciência de esperá-lo, o impedir de fazê-lo ir mais rápido.
Acho que todos nós precisamos de um pouco de dor. Para ter um pouco de história. Para ter um motivo pra sorrir algum dia.. ou uma razão pra nunca mais se fazer em lágrimas.
Não é como se fosse bom.. mas uma hora, chega a não ser tão ruim. Como uma rotina. Um rotina que inclue dores após sorrisos e vice-versa. E por não ter mais surpresas, já não há emoções. Já não se sente mais nada.
E estas palavras entaladas na garganta e esse sufocar da minha alma e todas as cicatrizes um dia, terão suas razões.
O correr do meu sangue nas minhas veias, o correr do meu sangue numa lâmina serão apenas lembranças.
E um dia, o meu sorriso vai esbanjar aquilo do que sugou.
Mas por enquanto, apenas convivo com minha rotina.
Apenas convivo com minha vida e futura história.
Apenas convivo com minha dor.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Cinderela desencantada.

Em mais um baile, sou barrada.
Por ser a unica sem uma mascara.
Unica com uma mente que funciona junto com uma boca, e sem nenhuma vontade de controle.
Por ser a unica diferente.
E não minto, ainda tenho vontade de fazer parte desse mundo.
De altas classes e almas baixas.
Mas não cubro minha mente, por eles considerada suja, por baixo de vestidos longos de cetim e brilhantes, acompanhados de uma carteira cheia do que eles mais tem: Falsidade.
São pagos com orgulho, mentiras, sorrisinhos estúpidos e uma falsa felicidade que eles conseguem ter como ninguém.
De terno negro para emagrecer o ego. De salto alto para disfarças o quantos são baixas. De mascaras pra esconder o que eles queriam ser. O que eu sou.
E enfim resolvo me render a este mundinho patético.
Vestido longo e preto, pra representar o luto pela pessoa que eu era e para esconder o quanto eu sou pé no chão. Eles não aceitam isso.
O salto alto, a maquiagem pesada, as mascaras que por mim, vagam sem me reconhecer. Para a guerra, estou armada.
Um sorriso falso, meu enfeite. Posso ser aceita, nesse baile de mascaras?
Em meus primeiros passos, sinto o frio daquele chão sujo de cristal.
E vejo você ali, sentado. Tomando um drink.
Seus olhos, visíveis por trás da mascara, parecem abrir portas para uma alma perfeita.
Seu toque delicado, seu jeito dócil de me chamar para dançar, suas risadas quando piso no seu pé, sua voz ao dizer meu nome, seu jeito de me olhar.
Percebo então, que você é mais um frequentador dessas festas de portas esnobes.
E já é quase meia noite, hora em que identidades se revelam.
E você é só mais um mascarado, que nunca vê o dia e as ruas por trás desses lustres.
E a alma que vejo, só está presa pelas grades de mais uma mascara.
Me despeço, dou uma ultima olhada naquele sonho preso e retiro minha mascara, como retiro minha pessoa dali.
E deixo então, aquele sapatinho que me machucou a noite inteira.
Para quando você sair por essas portas, saber qual sapato marcou o caminho que você deve seguir.
E por estas ruas então eu sigo.
E mesmo que não seja aceita de novo.. fui eu quem ganhou a guerra.

Apenas mais uma vez.

Uma vez, me disseram, que tudo o que vai volta.
Só me pergunto, questiono e tento, tento mesmo descobrir por que essa regra não se aplica ao amor.
De um olhar indiferente, em poucos instantes, úmido.
De um sorriso de porcelana, quebrado aos poucos por gotas escapadas de um coração que se rompe.
Apenas mais um coração.
Apenas mais uma vez.
Eu deveria saber disso.
Deveria saber o mal que me faria.
E quanto de sangue e vida iria me custar.
Na verdade eu sei. Mas quando dizem que o amor é cego, não brincam. E ele simplesmente não vê os perigos, armadilhas e buracos que cria a si mesmo.
Sangue e coração, vermelhos como paixão começam a ficar azuis como uma pedra de gelo.
Mas claro que sempre tem um inferno, para derretê-lo e nos queimar.
Apenas mais uma vez.
O tempo passa, e eu continuo tentando entender. E talvez eu morra assim. Se é que já não estou morta por dentro.
Meu corpo já não está comigo, minha alma já não sente mais nada.
Acho que isso é ser um anjo.
Olhar tudo lá de cima e não sentir nada, mas ainda ter piedade de quem a merece.
Chorando, chorando e quase que se mata ao chorar.
Apenas mais uma vez.
Chorando alto, alto, alto. Até que possa ensurdecer a todos na primeira lágrima.
E não ser mais escutada.
Mas afinal, de tanto que sofro, sou apenas mais um anjo. Tendo piedade de quem merece. Mas nem todos aceitam.
Mas porque eu deveria me importar, apenas mais uma vez?

Indiferenças reversas.


Há quem diga que respeita a diversidade. Mas há também quem não seja socialmente educado, ou simplesmente não tem o prazer de apreciar...
Contradições.  Sempre bem-vindas nesse mundo.
Numa sociedade padrão, anormalidades ou simples diferenças são algo inadmissível para sua crença ou aceitação.
Talvez os humanos evoluíram e desses  10% que usam do cérebro, passaram a usar menos. Talvez todos são daltônicos desnorteados e intolerantes a qualquer diferença ou defeito captado pelos olhos.
Incrivelmente desenvolveram a falsidade a exatamente tudo, e o ato de mentir não é mais um pecado, muito pelo contrário. Hoje em dia já que quem mente está no poder, o exemplo dado aos mais novos é tão intolerante e sínico quanto o que os exemplos estão dando aos mais novos.
Quem sabe a nossa realidade não foi cientificamente alterada e estamos todos sendo iludidos por capacetes especiais postos em nossas cabeças com chips que modificam nossa visão, olfato, paladar, tato e audição, e estamos vivendo num mundo tomado pela incompreensão da vida?!
E se simplesmente nada disso estivesse acontecendo e na verdade eu sou apenas eu numa realidade imaginária criada na minha onde vivo?!
Talvez o rumo do que falo tenha mudado, mas precisava dizer isso, para os desavisados da vida acordarem de uma vez.
Os humanos, num padrão comum, ignoram qualquer coisa inferior ao pensamento deles. Pouco se importam com o que está ao lado, frente, cima ou até em baixo deles. Ao menos que “isto” não os incomode.
Num mundo onde devíamos pensar em quem somos antes de tentar ser o que não há como escolha, acabamos indo por impulso, sem pensar no que aquelas palavras, aquele som tão diferente para outras etnias, países ou até planetas acaba mudando tanto o passado de um pretérito, mas tampouco um pretérito de um futuro.
Talvez o problema seja o presente. Se um milésimo atrás foi o pretérito, o próximo milésimo será o futuro. Diante disto podemos dizer que o que você vez ontem, na verdade numa contagem diferente continua sendo hoje. O tempo nunca acaba antes que você possa muda-lo. Um ano é pequeno comparado a um milênio. Podemos dizer nesse conceito que ainda estamos no presente deste milênio, e que só no milênio passado foi o pretérito que tanto falamos. Mas em contagens maiores talvez o nosso presente nunca tenha sido o presente e o futuro pode continuar sendo o passado enquanto o presente nunca existiu. Se devemos pensar no futuro para solucionar o presente, então para que há este intervalo?!
Num conceito totalmente estranho como a quadratura do círculo, com coisas tão lisonjeiras ou até maleficias, fica difícil distinguir entre duas pessoas totalmente iguais qual é a verdadeira.
Num quebra cabeça mental, os neurônios são as peças, mas depende de você montá-las ou não.
Lembranças diversas, cada som, cada cheiro, cada imagem... Vem-te a mente a cada momento em que uma peça é juntada. Sem imagem para te ajudar a montar, você tenta sozinho.
O resultado final é esplêndido! Todos adoraram a sua peça de teatro, todos estão aplaudindo de pé. Mas sempre haverá críticos apontando defeitos mesmo que tudo esteja mais impecavelmente possível.
Numa sociedade padrão... Ninguém é reconhecível.
Numa sociedade padrão... Nenhuma perfeição é cabível.
Mudanças? Já se foram a muito tempo. Diversas em vão, mas talvez algumas ainda andem por aqui.
Medo? Resta-nos em pé.
Numa caminhada contra a lei da gravidade. Num pensar da quadratura do círculo.
Onde os sentimentos lisonjeiros sumiram de vez.
Numa estampa acinzentada ouviu-se um barulho de uma caneta esferográfica colorida. Todos reconheciam o som e a cor. Mas não eram todos que queriam perceber. Enquanto as crianças ingênuas se aproximavam com suas roupas sintéticas, os mais velhos só arriscavam algumas olhadas rápidas. E então a luz do sol entrou sobre os vitrais acendendo a escuridão. Os passos de robô viraram os passos mais belos do mundo. Então as canetas criaram vida pintando tudo o que era cinza por ali. Ninguém estava preparado para isto. Fugiram, correram o mais rápido possível. Enquanto aos que resistiram, deliciavam com as cores.
Num livro onde não há gravuras, apenas a imaginação de uma criança pode fazer um simples livro virar outro mundo. Num lugar onde não há portas para um país distante, piratas em navios voadores e um buraco de coelho encantado a imaginação apenas fica quieta na sua mente.
Basta qualquer desfecho e sua mente cega abre os olhos. E então sua imaginação voa no ar.
Sonhar nunca foi demais.
E nunca será.

                                                                                      (Jho Brunhara)

O espetáculo.

Sem moral para está fábula, sem palmas para este espetáculo.
Levante-se, vaie, e vá embora.
As cortinas se fecham numa monotonia intrigante.
A cor do cinza a sufocar.
Pegue o que derrubou no chão, aqui não é lixo.
Guarde suas críticas para si mesmo, não dê sequer sinal de desapontamento.
Volte para a casa, e apenas pense.
Está deixando algo de valioso para trás?
Sonhe com este espetáculo.
Bailarinas voando pelo ar, fogos de artifício passeando pelo teatro...
Numa faísca, as cortinas pegam fogo.
Não se desespere, o espetáculo acabou de começar.
A adrenalina, a emoção, de ver a beleza se esvaecer em chamas, é o que te faz aplaudir, neste imenso vazio que o contém.
Não deixe seus olhos cessarem.
Fique em silêncio.
Apenas ouça a orquestra dos gritos.
Não deixe se levar por pensamentos fora do roteiro.
Não viu os avisos?! Não grite.
Mas algumas pessoas na platéia, fazem parte do espetáculo.
Um erro, um passo fora da linha e você cairá.
Veja o lustre. Em fogo.
Olhe para cima.
Mude de cadeira, volte a prestar atenção na peça que acontece.
Feche os olhos.
Não deixe as faíscas chegarem nele.
Se imagine a queimar, participando do seu show, do seu jogo. Tenha os teus tão nojentos aplausos.
Não respire.
Sinta as cinzas voarem. As pessoas aos seus gritos de desespero.
Não olhe para trás.
Veja o lustre a cair.
As cortinas incendiadas.
A peça ainda não terminou.
As bailarinas a se despencar.
Os mortos no chão.
E veja as cinzas te encobrirem como as cortinas iniciais que se fecharam.
Não levante, por favor.
Espere todos estarem mortos, e que tudo esteja bem.
Levante-se.
Não se importe com os ferimentos.
Aplauda.
E vá embora até que seja sua vez de fazer parte do show.
E não comente com ninguém.
Mas antes disso tudo, acorde.
Era um sonho.
Receber teus aplausos, com o teu ultimo sorriso com a crueldade de quem um dia estará no teu lugar.
E por fim, veja na perícia que o quê causou o fim da peça não foi os fogos de artifício, e sim a sua bituca do cigarro.
Finalmente, levante-se.
Aquele mesmo que pelas regras do teu show, te mandaram apagar.
Olhe apenas a diante.
Bata palmas.
Sente-se novamente.
E deixe o delírio das memórias, te matarem subitamente.
Subitamente, na mais lentas das torturas mentais.
A cortina ainda não se fechou.
Deixe as vozes te conduzirem, as histórias te fazerem.
A última cena é sua sepultura.
O quê há?
Nada.
Está realmente tudo bem?
Não há nada nem ninguém ali.
Você realmente não se importa?
Foi enterrado com as cinzas das cortinas que te estrearam.
Está tão orgulhoso de si, hipocrita, disfarçando tua dor com todo esse ego.
Costure seu paletó, e vá a outros teatros.
Exija que a costureira faça traços perfeitos.
Estúpido, não dê esmolas aos pobres.
Esplêndido, furte os mais ricos.
Seja a estrela da primeira pagina do jornal em trajes negros de luto.
Olhe ao seu redor, isso não lhe parece uma cova?
Por mais que grites, ninguém te escutará.
O destino fez o mesmo com ti, como fazia com outros.
E onde está o seu roteiro agora? Aquele cujas paginas se cansaram do mesmo protagonista.
E no fim, você é apenas mais uma estrela em cinzas. Apagada e perdida no seu próprio palco.
Rápido, fechem as cortinas!
Troquem o papel de parede!
Limpem as cinzas, ergam o lustre!
Escondam os corpos, e reformem o teatro!
Vamos dá-los mais sorrisos e enquanto nos matam sem saber.
O roteiro é o mesmo, só muda o personagem e o nivel em que se mata a história.
E numa lenda clássica, ainda podem-se ouvir gritos no teatro.
E apenas um homem a bater palmas.
E a rir do quê acabou de fazer.
Decapitado, e esquecido.
Feito de poeira, levado pelo vento.
Ele sabe o que tem pra você.
Naquele mesmo sorriso sarcastico em que se tomou em cinzas.
Aplaudam o espetáculo, ele acaba por aqui.
Depende de você mesmo, batalhar por teu personagem.
Ninguém recebe privilégios, a não ser que mereça.
Mas num padrão hipocrito, o gato vira rato, e o rato vira rei.
Mas ninguém irá lembrar de você, me desculpe.
Não queira ser o figurante, bancando o personagem principal.
Apenas mais uma mensagem:
Sorria, você faz parte desse espetáculo.

                                                                             (Mrs. J e Jho Brunhara)

terça-feira, 6 de março de 2012

Memórias.

Se para o coração,
Respiração vai devagar.
Memórias e lembranças
começam a me sufocar.

O meu sangue não mais corre,
já não consigo ver.
Procuro sua mão,
Onde é que está você?

Meus olhos se cerram,
Minhas memórias esvaecem,
Em imagens, palavras em flashes
que pouco a pouco desaparecem.

Minha veias paradas,
posso sentir meu corpo gelar.
Num organismo imaginário,
meu coração começa a palpitar.

Eu posso viver novamente,
mas não estou viva.
Se veem as memórias
de uma garota inofensiva.

E as vivo como cada dia fosse um minuto,
E tudo me vem novamente.
Da primeira respiração as cicatrizes.
Tudo e todos me vem a mente.

Ainda sufocada,
tudo posso ver.
Vivo e sinto tudo
mas ainda falta você.

Procuro tua mão novamente,
que costumava a minha a segurar.
De quem corria e brincava comigo..
e quem agora não sei onde está.

E se eu podesse te salvar,
de tudo faria.
E se não fosse melhor,
procuraria tua alegria.

E me deixo cair neste poço mental..
cheio de fotos e recortes de memórias.
E de colagens borradas e malfeitas..
Vivo pequenos momentos de nossa história.

Daquele tempo em que eu sorria,
e sonhava com tua presença aqui
Hoje olho para o céu e ainda me pergunto
se algum presente ou castigo, recebi.

De minha história, em tudo você fez parte.
E eu até posso dizer,
De todos os meus sorrisos e cicatrizes,
a mais importante foi você.

Com flores e cores, decorado
Me encontro no teu tumulo enfim.
Sem saber se como presente é estar aqui com você.
Ou se como castigo é estar com você aqui.