sábado, 2 de maio de 2015

Sangue corre.

O sangue agora corre como água. Eu falhei.
Por todo lado, o sangue corre. Sem cor.
Eu falhei. Eu morri. Eu matei.
Vi nos teus olhos, a cor mais bela.
Vi na tuas asas, tão desejado coração livre.
Coração. Armadura sofrida. Arranhada, destruída. E insiste em se refazer.
Eu lutei por ti, por cada momento e sorriso.
A guerra acabou e agora, sangue corre.
Nas asas que já não voam mais. Nos olhos que nada veem.
No coração que nada sente. Que nunca mais voltará a se refazer.
Deixei o que eu mais temia, ganhar de mim.
Tomar conta da alma mais pura, no meu lugar.
E agora, sangue corre.
Sem vida, corre.
Sem cor.
Nada simboliza, agora só corre.
A maldição da existencia sem vida.
Quando aprendemos a separar alma de corpo e fazemos a escolha errada.
Eu deixei, querendo proibir.
Você se foi. Eu o vi partir.
Arranquei de ti, teu sorriso.
Do teu, o meu.
E agora sangue corre, sem colorir o chão.
Sem dar significado. À alma, à guerra, à nada.
Apenas corre. Com o tempo. Como o tempo.
Corre e leva. Leva, lava.
Lava a cor mais bela, o coração livre e a alma mais pura.
E todo o amor de quem agora o sangue corre.
Apenas, corre.

Anotação aleatória 9 - Si mesma.

Seus olhos escorrem histórias.
E a escuridão dentro de si, perde o controle.
Seus suspiros gritam. Sangram.
Corpo delicadamente maltratado.
No espelho, reflete seus demônios.
Mas e agora, quem vai salvá-la de si mesma?
Dance.
A música, agora, parece letal.
Então dance.

Chuva.

Em dias assim, as tragédias acontecem devagar.
Todo passo é devagar.
Mas tão devagar que a emoção passa.
O sangue nem corre.
A dor tão rápida que nem vem, só arrepia.
Em dias assim, tudo são cenas de filmes.
Filmes reais de dias de mentira.
Dias assim.
Em que tudo é fotografia.
A bagunça rotineira, a chuva do backstage.
É tudo produzido.
E tão real, nem parece.
Tão doloroso, nem crédulo.
Se afaste.
Ou dê um abraço.
Na sensação de morrer acordando.
Mergulhando em puro quê.
Trilhas sonoras de silêncio ritmado.
Ó melodia cruel, cruel o dia.
E o teto.. ele sangra também?
Olho. Espero. Respiro. Não mais.
Ou será só mais uma chuva pra complementar a dor que não vem?
Arquitetado e produzido pelo imprevisível.
A eterna agonia que ninguém sente.
Ou de não sentir.
Não se sentir nada. No meio de tudo.
No meio de quê. Sendo tudo ou nada.

Festa.

Eu não sei qual foi a ultima vez que essas paredes viram luz.
Não sei qual foi a ultima vez que ouvi aquela porta ranger.
Que ouvi passos, ou vozes.
Se não, os meus próprios fantasmas.
Vivendo no escuro, onde ninguém pode ver.
As velas do bolo, não há ninguém para apagar.
Ali, cuidando para que ninguém entre.
Incendiando a paz, a esperança e minha mente.
São as cinzas das cores que ali caem.
São as cores das coisas que ali morrem.
Cada pedaço desse lugar, a queimar.
Cada pedaço de mim, a morrer.
E o primeiro pedaço, para quem vai?
Quem vai, quem vou, quem vem.
Ninguém.
Não há nada aqui.
Atitudes inúteis, esperanças involuntárias.
Só minha mente queimando.
Queimando o pavio, o bolo, a casa.
Intacta. É o que me condeno a ser.
Ver tudo se desfazer em pequenas cinzas.
Desabando em cima de mim.
Me vendo estourar, continuar intacta.
Sentindo a dor, continuar intacta.
Ver o fim da festa que ninguém sabe que aconteceu.
Mandar convites para que não queimem comigo.

Anotação aleatória 8 - Meia passagem de ida.

O quarto está levemente iluminado num tom de quase-escuro.
Combina com o tom de voz calmo daquele cantor antigo.
E com o péssimo áudio das musicas antigas.
Um áudio que até falha as vezes e pode dar medo. Mas me conforta.
Junto com o café malfeito e a vontade de morrer com uma dor de garganta.
Morrer sob a luz fraca dos céus sem cor.
Daqueles dias em que a unica certeza é a tristeza e a chuva o dia inteiro. E sem motivo algum.
Eu tô ferrada. Parece até que tô morrendo. Mas tenho um jeito bonito de o fazer.
Quem sabe, o café frio, vire uma boa recepção. Um amigo, talvez.
Eu e minha passagem de ida. Ao som de discos arranhados e canto dos pássaros lá fora.
Podia até ser um romance.
Mas, não gosto nada da sensação de que há outras pessoas no mundo além de mim.
Nem os carros passando. Nem pássaros.

Seria.

Tarde fria de sol,
com inicio de chuva,
algumas poças já se formavam.

Pés sem ritmo,
lugar sem música,
duas almas dançavam.

Sem ensaios,
ou passos combinados.
Dois corações,
e os corpos colados.

Fossem as batidas do coração,
a música do momento.
E frio nenhum superaria,
o calor dos sentimentos.

As brincadeiras de criança,
ignorando o que há ao redor.
O sorriso de um na face do outro,
esquecendo o que é dor.

Dia cinza seria aquele,
sem descansar nos braços do meu amor.
Nos nossos beijos, a chuva gélida.
Nos teus abraços, teu calor.

Dia triste seria aquele,
sem esquecer o dever.
Sem esquecer as regras e leis,
e sem amar você.

Anotação aleatória 7 - Aqueles momentos.

Aqueles momentos, eu eternizaria.
Guardo cada toque, lembro a cada dia.
Aquelas cenas que jamais quero perder.
Em qualquer lugar, lembro de mim e você.
As horas se passam, o café ainda está ali.
Frio, como meus braços sem você aqui.
Sinto tua falta.
Ando sozinha pelas ruas,
procurando o meu amor.
Reviro minha mente pensando em você.
Tento qualquer coisa pra te esquecer.
Minhas mãos enlouquecem, procurando a ti.
Pensando somente, porque não estás aqui.
Os ecos na casa passeiam pelo corredor,
Doem o meu coração, me fazem sentir a solidão.
E querer você aqui. Para preencher.
O corredor. O coração.

Anotação aleatória 6 - Sorriso trancado.

E se eu te dissesse,
que meu céu não tinha cor.
Se podesse lhe dizer
que não sabia o que era amor.
E se eu lhe contasse,
todas as lagrimas que já me trouxeram,
Contasse todas as coisas que já me fizeram.
Se você soubesse, quem eu já fui um dia,
Talvez, descobrir que é a minha unica alegria.
Um dia, você vai saber todos os meus segredos,
Perto de você,  eu perco os meus medos,
Pois você além de amor, é meu amigo.
O brilho do sol no meu quarto escuro.
Você é o que me tira do obscuro.
E se no chão, um dia eu quis me partir,
hoje você me levanta e me faz sorrir.
Um dia eu pude ver em meio a multidão,
Eu conheci você e descobri meu coração.
Coração este que trancava, um dia, todos os sorrisos que você vê.
Sorrisos de nossa alegria.

Anotação aleatória 5 - Memórias.

Bebidas velhas largadas por mim.
A manhã fria que apagou o cigarro da semana passada.
Ando sem rumo desde que peguei o carro.
O mapa rasgado com as fotografias.
E o banco do lado, vazio.
Nada para me lembrar de um passado frio.
Numa ponte qualquer, admiro o céu.
O cinza triste refletido nos olhos cor de mel.
Pendurada, vivendo pela adrenalina,
e morrendo por ela desde menina.
Eis que talvez, eu me deixe cair.
Tentando me livrar.
Mas a dor, não vem de partir.
E sim de lembrar o que vou deixar.

No correr do sangue.

Tocando teu coração, posso ouvir
um pouco de amor, a emergir,
o calor dos teus olhos, a refletir
o correr do sangue, que posso sentir.

lentamente, posso tocar
com as mãos e boca, viajar
o amor é eterno e devagar
no correr do sangue, decifrar

me pego aqui a te querer
faço parte de ti e posso ser,
ao mundo la fora, esquecer
no correr do sangue, conhecer

o sol pouco reflete sua cor,
nos teus braços, doce esplendor
não há escuro, nem dor
no correr do sangue, o amor

aqui me permito perder a mim
tu és meu limite e não tem fim
dentro de ti, meu lar enfim
no correr do sangue, ouço o "sim"

se olho por pouco, posso ver
as horas do dia, a correr,
por cima do teu ombro, perceber
teu coração a me dizer

pelo brilho das estrelas a surgir,
o esvaecer do doce azul,
como elas, estarei sempre aqui
vendo teus olhos brilhando ao sul
e mesmo que um dia, possa partir
o unico que amo és tu.

Anotação aleatória 4 - Obra.

O olho desenhado em lagrimas, choram minhas toalhas velhas.
Pinta meu quarto em dores, demolindo o coração concreto.
Se caem as paredes, quebra-me os ossos.
Se as mantém, quebra-me o amor.
Quebra-me o chão, ergue-se a escuridão.
Quebra-me o amor e toda solidão é multidão.
Que destrói e remenda o coração.
Medo, vida e paixão.
Entre os pontos, talvez uma solução.
De mim, construção e destruição.

Anotação aleatória 3 - Teu.

Porque quando tento cantar, grito teu nome?
Quem sou eu, eu perdi.
Perdi cada segundo da minha alma, no seu adeus.
E ainda me sinto esvair.
Tenho medo de te ver sorrir.
E ouvir tua voz.
Sei que parte da tua alma, já não me conhece.
E em nenhum daqueles lugares, fazem mais parte de nós.
Eu também não.

Água do banheiro.

Eu não lembro quando foi que tantas nuvens apareceram.
Quando foi que essa cidade decadente estourou todas as luzes de uma vez.
Quando foi que meu cardápio do dia virou um monte de desgosto e tentativa de sumir.
Quando foi que minha veias estouraram todas de uma vez.
Mas dessa vez, eu vou vomitar palavras.
Essa é uma daquelas horas em que você começa a falar da sua vida como se ela fosse inspiração.
O ideal da desgraça.
E eu sou um monte delas.
Saltitando no parque, morrendo por sorrisos.
E embora uma soubesse que eu ia chegar a esse ponto, a outra estava feliz com isso.
Pois todas elas já passaram por essas lagrimas antes.
E estava cada vez mais perto, eu já sabia.
Meu filme já estava quase sem cor.
E agora nem luz temos.
Então vamos ler poesias em busca de esperança.
Esconder os olhos vermelhos, atrás de telas com vozes antigas.
Talvez, já mortas.
E como faz para morrer só por um tempo?
Até conseguir viver de novo.
Porque eu já nem sei o que isso significa.
Acabe comigo por favor, inalcançável.
Não se faça de gelo de novo.
E como é engraçado que se assemelhe ao inicio de seu fim.
Acabe comigo, por favor.
Fins de semana com sorrisos marcados.
Minha agenda foi queimada.
Não se deixar atingir é a pior das defesas.
A pior das dores. A pior das vitórias.
Então acabe comigo, por favor.
E me faça largar de vez minhas próprias armas.
Minha própria armadura.
Meu próprio veneno corre nas veias.
Acabe comigo, por favor.
E dance, logo após.
Porque eu já desisti daquele sorriso.
Aquele que acabou refletido na água do banheiro.

Equilíbrio.

Um grande oceano de nada.
Nada em todo lugar.
Nada é tudo. E se tudo é nada, então quem sou eu?
Um tudo, nada, bem e mal, sem meio termos.
A junção dos extremos.
Vem e vai.
Volta e meia, todos precisam ir.
Vão. Batem o cartão.
E começam uma vida cinza.
Uma vida cinza, com um terno de marca.
Com pronomes frios. E rostos formais.
De mais. Sem mim. Sem tudo ou nada.
Sem.
Eu sou a felicidade.
Todos precisam ir. Vão para todo lugar e me deixam aqui.
Eu estou lá. E em todo lugar.
Mas o que é nada, é como se não existisse. Quando na verdade está em tudo.
Ignorada, eu sou as lágrimas.
Então, o que eles querem?
Um meio termo, um sorriso engolindo o sangue que escorreu.
Consecutivos dias sem razões, sem padrões.
Eventos sociais em que se acabam. Na pista, na lixeira.
São todos nada. E tudo.
E são seu fim. E o recomeço.
Então quem somos nós?
Poderia comparar-me ao por do sol, no limite do horizonte?
Talvez, tão belo. Mas nunca equilibrado.

Pesado.

Eu vi os céus chorarem e então saí.
Naquela manhã mais cedo, o unico calor dentro de mim era o café preguiçoso que fiz quando acordei.
Não havia vida por aqueles corredores.
As paredes pareciam lamentar. Sua tinta já era pesada, estavam envelhecendo.
Infiltrações de água que poderiam romper a qualquer momento.
Bem acima da minha cabeça.
Os céus choraram e eu sai.
Pelas ruas pertubadas, eu as ouvia gritarem.
Serão teus gritos, histórias de passos calados que por ali sofreram?
Serão teus gritos, minhas histórias?
A cada passo, me sentia morrer.
A cada toque, sentia meu corpo.
Mas nada de alma.
Deverá ela, ter se perdido em algum de meus passos?
E quantos passos deve se dar para deixar sua alma escapar?
Jogando a si mesma na cama várias vezes, numa esperança desesperada.
De uma morte, um desmaio. Um coma, uma convulsão.
Ou até mesmo uma febre, um enjôo, um drama.
Mas tudo que tenho são essas goteiras chorando em cima de mim.
Tendo como a unica sensação de vida, a agua batendo em meu rosto.
E a sensação de viver sem uma.

Viver ou quase.

Vivendo quase morta.
Na sombra dos raios de sol, numa cama fria.
Mas as lágrimas queimam minha pele.
Minha máscara.
Eu tenho esquecido o que sinto, o que sou.
Talvez já não lembre há muito tempo.
Antes das duas doses.
Duas doses de enlouquecer.
Embriagada de coma, me jogando na cama.
Como se me jogasse de um precipício. Mas sem a diversão de atravessar o chão.
Se perder. E se perder?
Perder o que?
Se cada vento frio que por mim passa, leva consigo um pedaço de minha alma.
Deixa apenas as nuvens miseráveis de um dia sem cor.
Pode ser uma câimbra, mas meus dedos dos pés não se mexem mais.
Ou apenas a vontade de estar morrendo.
Ou apenas a percepção de já não viver há muito tempo.
Me deixei cair.
Cair nas profundezas de um oceano, lavar minha alma.
Cair nas profundezas da minha lágrima, pesar minha alma.
E nunca mais voltar lá.
Na minha tormenta, tenho paz.

Que seja loucura.

Eu já não sei porque me libertar dessas paredes.
Os machucados das correntes já me confortam.
Ou talvez seja loucura minha.
Daltonismo o meu, mas todas as paredes se pintam de cinza.
Eu sinto que uma parte de mim morre, a cada respiração que deixo ir.
Eu sinto que vou entrar em coma, a cada noite que adormeço minhas dores.
As noites viradas, cerrando os olhos quando o sono é mais forte que os gritos da mente.
Sair no sol dói. Doem os sorrisos ensaiados pela pretensão de um dia ruim.
Talvez, seja o desejo de morrer por alguns tempos. Talvez, seja rotina.
Eu prefiro esperar a chuva.
Brincar em poças, me molhar em sorrisos com resíduos de lama.
As vezes, ser feliz é visto como algo fora das leis.
E as pessoas acham sensato regrar a possibilidade de ser feliz.
Sensato ter medo de morrer sorrindo, se é pra isso que vivemos.
Eu prefiro ser louca.
Criança inconsequente, que não sabe a definição de limite.
Em busca de um sorriso através de um abismo.
Abismo escuro.
Quantos cantos tem esse quarto?
Quais deles ainda não sangram com minha dor?
Talvez seja loucura minha.
Mas eu quero ficar presa as correntes.
Presa aos seus braços. Viver sob a luz do teu sorriso.
Até morrer.
Porque pedir um pouco de paz é um pedir um pouco demais?
Porque pagar tanto em busca de algo que não custa nada?
Derramar meu sangue sobre o cinza calmo.
Mas talvez seja apenas loucura minha.

Pequena menina.

Se atravesso a porta, volto logo ao meu travesseiro.
Menina assustada, que tem medo do lado de lá.
Se dou um passo, posso me machucar.
Menina desastrada, que anda sem olhar.
Se corro para sair deste lugar, caio, tropeço e choro.
Menina boba, que mal sabe andar.
Se choro, não tenho para onde correr.
Pequena criança, que nunca sabe o que fazer.
Se fico aqui, paro e apodreço.
Menina fraca, que nem tem forças para lutar.
Se apodreço, ainda não morro.
Menina abandonada, que ninguém quer ajudar.
Se ninguém me ajuda, fico aqui, apenas vendo o mundo pisar por cima de mim.
Pequena menina, do qual não deve muito se esperar.
Mas um dia, me levanto e aprendo a lutar.
Menina rancorosa, ela não vai te perdoar.
Se aprendo a lutar, um dia, teu sangue em minhas mãos há de escorrer.
Apenas uma menina, a qual não deveria deixar chorar.

Me vejo.

Eu me vejo gritar em becos escuros.
Calada no sofrer da noite.
Eu me vejo em passos desolados.
Na agonia alheia.
Eu me vejo no cinza dos dias.
Eu me vejo em cenas tristes espontâneas.
Me vejo no sangue do espelho.
Eu me vejo contorcida no colchão.
Me vejo largada no caixão.
Vejo meus dias no fim do ontem.
Nas trevas, eu não queria ver nada.
Mas parece que nada é tudo o que vejo.
Nada que vale a pena.
Nada que me faça levantar da cama.
Nada que eu tenha que me lembrar.
Desaparecendo um pouco mais a cada ano.
Renascendo um pouco mais a cada morte.
Me desfazendo um pouco mais a cada lágrima.
Até que eu não me veja mais.

Sem ninguém.

É incrivel a quantidade de vezes com que isso se repete.
É incrivel a quantidade de vezes que me repito a isso.
Como sempre, deitada sozinha. Deitada no escuro. Chorando no escuro.
Sem ninguém.
As vezes, me conto minhas próprias histórias.
Por vezes, choro comigo.
E passo essas noites conversando com o silêncio.
O silencio me escuta. É o mais doce som que nunca ouvi.
E eu deixo que o meu travesseiro retire as lágrimas do meu rosto.
Para que eu possa rever a luz da sala pela porta pouco aberta.
E olhar, como se eu nunca tivesse visto antes.
Como se eu não soubesse do mal contato de seus fios.
E eu vou lá de novo.
Com uma expressão limpa de quem nunca sofreu nada.
Com uma expressão limpa como consequencia de quem já sofreu muito.
E eu finjo que sorrio. E finjo que consigo sorrir. Que sou feliz.
E fico feliz por fingir isso.
Para aguentar tanto com um sorriso desnecessário. Fingir que tenho pessoas do meu lado.
E terminar no mesmo quarto escuro.
Deitada no escuro.
Chorando sem ninguém.

Venha me ver.

O telefone não toca,
o mundo não para,
nós esperamos tanto,
e tanto quebramos a cara.
Cadê você enquanto o sol se vai,
cadê você quando a morte vem?
Venha me ver essa noite,
só você me faz bem.
Eu acendi as velas,
o café quase frio e bem forte,
usei seu perfume na casa toda,
um cheiro gentil de morte.
Entre quando quiser,
preciso tanto de você,
as estrelas estão me observando, sozinha,
porque você não vem me ver?
Venha logo, está de noite.
A porta, eu nem fecho mais.
A luz da lua reflete no chão,
galáxias irreais.
Venha comigo e fique aqui,
Em meus braços, esta noite.
Talvez não estejam tão quentes como antes,
mas vais estar comigo até a morte.

Nada.

O que eu tenho? Nada.
Meus problemas, nada.
Meu coração se faz do cinza de uma manhã.
Meus sorrisos, empoeirados.
Minhas lágrimas secaram.
Eu sou a brisa tímida de um dia doloroso.
Contra meu rosto.
Eu não sinto nada.
Entro e saio dos lugares, calada.
Rompendo meu canto escuro, pela pouca luz de um bar.
Vivendo dias que não são nada.
Nada, além de histórias inúteis.
Que vão esvaecendo com o passar da meia noite.
Substituídas pelo vazio do amanhã.
Dou meus passos pelas ruas.
Sob um céu impiedoso.
Céu cujo tom só piora a ansiedade.
Ansiedade por um dia de pura falta de cor.
Estrelas.
Ouvem o eco das minhas batidas cardíacas.
Em ruas cheias de sorrisos vazios.
Dos ventos noturnos vestindo mascaras sociais.
Cercada de pessoas dizendo tudo que não é nada.
Pessoas que não são nada.
De nada, estou cheia.
E nada é tudo e todos que tenho.
Meu livro escrito de paginas em branco.
Meus contos, de tintas ainda lacradas.
Minhas fotos sem cor nenhuma.
E vivendo nada, viver não é nada.

Não deixe.

Eu adoeço a cada minuto e meu unico remédio é você
Meus curativos são seus toques.
Meus sedativos, teus beijos
E não haveria tumulo melhor para se descansar, do que seus braços. Seus braços descansados sobre mim.
Descansar neles eternamente.
Sob a sombra das estrelas e o brilho do teu sorriso sobre mim.
Eu estou enlouquecendo e seu abraço é a minha camisa de força.
E quem sabe eu precise de uma solitária, para nós morarmos juntos.
E talvez, precise ser dopada, para passar o resto dos meus dias sonhando com você.
Mas feche a janela, para que os sopros do inferno se mantenham longe.
Eu não quero que os demônios tirem o meu anjo da guarda.
Eu morro cada vez mais e meus aparelhos são teu amor.
Mas não deixe que desistam da minha sobrevivência.
Eu não quero sair daqui, dos teus braços.
O mundo lá fora é apenas uma mascara que usa o nome de vida.
Mas a minha vida, faz o meu coração bater mais rápido.
Minha vida é você. És o momento em que posso sorrir, sentir sem medo de doer.
E tudo o que me faz viver é o seu amor.
E sem minha vida, eu morrerei. Voltando a existir sem a mínima sensação de vida dentro de mim.
Obrigada a aturar o mundo, sem descanso.
Um mundo de pessoas normais, tão piores quanto eu.
Por isso, não me deixe morrer.
Pois é lá fora que eles vão me enterrar.
Debaixo de terra e de toda essa gente que não sabe amar.

Anotação aleatória 2 - Poça.

Deito-me ao lado daquela poça.
Poça de palavras intermináveis e discussões mal terminadas.
De gotas de discórdia e sorrisos mascarados.
Eu podia me virar só mais um pouco e sumir desse mundo, mergulhando no mais fundo livro de recordações.
Puro inferno.
Largo-me neste local sombrio, de chão frio onde ninguém pode me ver.
E assim, sem mim, tudo parece em paz.
Eu não faço parte deles. Não sou parte deles.
Sou um todo e um nada.
Solitária.
Não sou bem vinda.
Pois tenho sangue diferente e, infelizmente não posso tirá-lo de mim.
Mas posso me tirar daqui.

Anotação aleatória 1 - Guerras.

Somos feitos de eternas guerras.
Guerras por passos, milhares de cadaveres feitos de nossos ossos.
E vamos sangrando, aos poucos, nos matando.
Milhares de vozes gritando, entre si, guerreando.
A cada  dia.
E o que é a alegria?
Um padrão de variáveis. Leis mutantes.
Uma rotina de mudanças.
Depende de como foi seu dia.
Meus pés estão exaustos de não sair do lugar.
Poesias caladas, palavras que não dizem nada. Mentes derrotadas.
E agora sou apenas uma revelação anônima, amontoado de guerras organizadas.
Desconhecida por sorriso e amiga intima de cantos escuros.
Como em qualquer rua por aí.

Primeira manhã.

Essa é a primeira manhã em que acordo cedo.
Em que acordo com a luz da manhã contra meu rosto.
Essa é a primeira manhã que levanto.
Sem rodeios e sem medo de abrir a porta do quarto.
Essa é a primeira manhã que respiro.
O ar frio antes dos calorosos raios de sol se revelarem por trás das nuvens.
Que me purifica a alma sob o controle da preguiça.
Essa é a primeira manhã de um novo dia.
Que me sinto feliz por acordar.
Que anseio por sair no mundo através das janelas.
Essa é a primeira manhã que acordo sem medo.
Sem medo de andar e tropeçar.
E de não poder mais me levantar.
Sem medo de que algo faça com que as nuvens voltem.
E que me traga a escuridão, antes que a noite me traga as estrelas.
Essa é a primeira manhã em que acordo.
Criando diálogos de uma voz só.
Criando o trajeto de um dia bom.
Essa é a primeira vez que vivo.
Sinto com as minhas mãos,
a chuva molhando meu rosto,
quem sabe, adoecendo meu corpo.
Essa é minha primeira manhã.
Sozinha.

Hospício.

um gosto horrivel de remédio-dia-todo
todo dia.
não consigo mais diferenciar os dias.
quem dirá horas.
tá na hora de ir.
mas não tenho hora de partir.
e nem sei se vou voltar.
de uma viagem de voltas e voltas por qualquer lugar.
ando pouco e paro muito no mesmo lugar.
um lugar que eu ainda preciso conhecer,
mas já cansei de acordar e reconhecer as mesmas paredes
as paredes tão baixas que nunca consegui pular,
as janelas fechadas por que sempre fugi.
eu sempre quis sair daqui.
mas nunca sai de lá.
daquele chão maltratado.
me enterrei no ar.
perdi os meus versos,
encontrados ao inverso,
larguei os meus amigos,
vultos de solidão.
acho que fiquei louca,
isso é completamente normal
num manicômio de insanos mentais,
que internaram o coração.

Talvez.

Talvez, a escuridão, sejam as janelas fechadas.
Que um dia eu fechei e esqueci de abrir.
Talvez, a depressão, sejam as minhas correntes,
num museu de melancolias em que me prendi.

Talvez, a ilusão, sejam as portas.
Com rachaduras por onde ainda passam alguns sorrisos distorcidos.
Restos de sorrisos, que eu nunca mais vi.
deixei de sentir por mais alguns corações partidos.

Gênio insignificante, talvez seja quem sou.
Nunca pelos holofotes, mas pelo palco sombreado.
Talvez, os melhores poemas,
venham de um qualquer embriagado.

Talvez, eu não seja o que querem por aí.
Talvez, eu seja o que não deve ser querido.
Talvez, não seja chamar a atenção de quem não me ouve.
Talvez, seja a obra deixando o asfalto colorido.

Talvez, seja a cidade citando poemas estúpidos,
talvez, seja um estúpido recitando poema.
Talvez, seja apenas um drama de teatro.
Talvez, seja tudo ou nada, o meu dilema.

Medo.

Medo de sorrir,
e o destruírem.
E se uma lágrima cair,
e todos rirem?

Medo de gritar,
e me calarem.
Medo de viver,
pra me matarem.

Medo ser clichê,
em espalhar a arte.
De ser idiota,
em amar-te.

Medo de perder a essencia,
no meio da multidão.
Amar tanto com a mente,
e não pensar no coração.

Medo de gritar meus pensamentos,
em poemas diversos,
de banalizar meus sentimentos,
e punir os meus versos.

Medo de correr,
cair e sangrar.
Medo de não ter alguém ali,
para me levantar.

Medo de crescer
e bater a cabeça em algum lugar,
medo de brincar
em ruas que não posso andar.

Mas nas poesias em minhas paredes,
não tenho medo de nada.
Sou mais uma criança inquieta,
feliz e descontrolada.