sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sozinha.

Despertei num horário anormal, acordei sozinha.
Andei pelo vácuo da sala, pelo vazio dos quartos.
Senti o gelo do chão, só ouvi o som dos meus pés ao tocarem os azulejos.
Uma goteira vinda da cozinha, o ranger das portas..
E cada passo expulsava e afastava uma multidão que já estavam a metros de mim.
Abri a janela deixando entrar um dia cinza.
Senti o vento gelado bater em meu rosto, mas não senti frio.
Deixei por mim mesma ser invadida por melancolia deste céu nublado que por mais tarde promete a chorar.
Invadida por tristeza que me rompeu o muro de indiferença, deixando vazar toda imensa dor contida. Me deixei inundar por dentro. Mas por fora são as mentiras que montam minha mascara.
Passei maioria das horas sozinha.
Não havia o que viver nem a quem tocar. Com quem falar ou quem ouvir.
Me deixei levar um pouco por algumas melodias vindas de cordas de algum violão distante.
De voz, só ouço a minha.
A minha que quer se calar por não ter por quem ser ouvida.
Vi poucas pessoas passarem por mim. Não senti ninguém.
Me isolei num mundo de quatro paredes e de uma só habitante.
Nenhuma mensagem, nenhum telefonema.
O cinza refletido em minha janela. Não há lugar algum.
Nenhuma causa de sorrisos, nenhum fim de uma dor, ninguém para impedir um gatilho.
Nenhuma guerra e ainda assim, nenhuma paz.
Meu espelho não consegue ocupar o lugar de alguém. Ele não fala comigo.
Será que ninguém citou meu nome na minha ausência? Será que alguém sabe da minha existência?
Fiquei trancada aqui. Vendo apenas o cinza iluminando a si próprio por pequenas frestas de minha janela. Senti dores. E senti sozinha.
Um coração sozinho. Uma vida sozinha. Vida?
Tudo o que eu tenho, são dores. Mas não há quem tenha essas dores.
Porque ninguém se importa. Porque ninguém se lembra. Porque não há ninguém.
Porque estou sozinha.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Topos e holofotes.

A dor em meu peito acorrenta quaisquer palavras em minha garganta, bloqueadas por um nó de lagrimas nunca reveladas, jamais podendo fluir.
Num mundo imundo perdido, jamais veremos novamente a luz. Talvez por que não abrimos os olhos, ou talvez porque ninguém deixa-nos abrir.
Ouço doces sons, melodias suaves perdidas num céu infinito que agora me envolve em escuridão. Como aquele cantinho frio de meu quarto, as ruas se tornam o refugio de minhas lagrimas.
Até onde e quando isso vai dar? Percorro minha ou nossa caminhada?! Ou sobes, ou você é a escada.
E de cada passo lento que dou, minha escada se desfaz, me derruba de meu pedestal. O tempo corre, a vida corre, as pessoas correm, falta de ar. Me sinto desnorteada. Vivo em vertigens.
Toco sua mão, você some. Por que agora alguém está apoiado em meus ombros? Um movimento brusco, e sou esmagado por inúmeros sonhos inalcançados.
Me toco ao chão, me sinto o impacto. Deixo minha mão escorregar em meu rosto, capturando a ultima lagrima que, como orvalho, escorre em meus dedos...
No fundo deste poço de sonhos, vejo almas mortas, as bases dessa escada injusta. Por quanto tempo algumas pessoas terão de aguentar o peso do mundo em seus ombros?
A recusa do meus pés atrofiados, cravados ao chão, de levantar. Tento com todas as forças, não sei mais de onde forças tirar. E por mais que tanto eu tente, jamais é o suficiente.
Visualizo sonhos materializados de imaginações e visões distantes, hoje quase inexistentes. As deixei escapar.
E num choque de realidade, a imagem solitária na minha frente faz com que a primeira lagrima escorra.
Minha vontade é me deixar levar por qualquer correnteza ingênua. Até onde eu pararia, ao menos se quisesse tentar?
Num lugar de sonhos tortuosos, talvez. Mas a dor nunca me teve de algo tão bom..
Como criança, me machuco e teimo em repetir o erro para sentir as melhores emoções da dor.
Dentre frestas da fechadura, são pequenos raios de sol que fazem cintilar um risco estreito de sangue.
Tenho que abrir a porta para mais um inicio da mesma vida.
Tenho que abrir a porta e me livrar da escuridão.
Mas privo a mim mesma da chave.
Tenho que abrir a porta para ver cintilar mais um caminho estreito. Um que eu possa trilhar com meus pés, e não, com lâminas.
Trilhar um caminho de luz.
Porque não há nada de um palco, sem seus holofotes.
E não há nada dos holofotes, sem algo a iluminar. Que iluminem então cada passo de um espetáculo.
E só depende de mim, abrir a porta.

Te ter aqui.

Como eu adoraria te ter aqui.


Te ver chegar de um dia cansativo e deitar exausto na cama. E então, delicadamente, eu deitaria sua cabeça no meu colo e entrelaçaria meus dedos no seus cabelos.
E então você abriria seus olhos e sorriria, pois veria que estou sorrindo. E só nós entendemos nossos sorrisos.
E depois de um tempo juntos, sem nenhuma palavra dita, mas de gritantes olhares, você levantaria e colocaria seus braços em minha volta. De gestos se fariam as melhores palavras. Numa tentativa de charme, tiro seus braços levemente de meus ombros e sairia do lugar. Minha ausência recente te conduziria aos meus passos.
Você viria me procurando e me veria isolada num canto, apenas te esperando correr atrás de mim, feito uma criança birrenta. Viria até mim, levantaria meu rosto suavemente e me daria um beijo suave. Pegaria minha mão e abriria a porta para me levar a algum lugar.
Me levaria ao quintal, onde iriamos conversando enquanto horas passam. Você é meio idiota, sabe? Me faria rir. E eu te chamaria de bobo. Porque você é. E você me chamaria de chata. Eu devo ser, né? E daí eu te empurraria e você voltaria pra me agarrar e bagunçar meu cabelo. Gosta do meu cabelo bagunçado?
E de tanto conversar distraídos, bate a hora perfeita em que o sol se põe. As cores intensas, aquele brilho incrível. Obra de arte momentânea e diária. Mas nunca foi tão especial. Não pelo momento, ou pelo paraíso diante de nós. Mas pelo jeito que ele brilharia em seus olhos, quando você me olhasse daquele jeito. Você sabe.. aquele jeito. Que me irrita por me deixar sem graça. Esse jeito.
E daria a ultima olhada na paisagem, antes de você me fazer fechar os olhos. Simples olhos fechando, um simples toque de lábios, um simples bater de corações. Simples três palavras vindas da tua voz que tanto me irrita.. Isso tudo nunca seria tão perfeito se não fosse com você…
…Se eu tivesse você aqui.
Como eu adoraria te ter aqui.

Doces sonhos.

Posso ver cada detalhe de sua timidez. De seu sorriso timido.
Cada detalhe de cada angulo do seu olhar.
E vejo isso tudo em camera lenta.
Um dos mais lindos filmes que me faz sonhar.
E falo tudo isso como se fosse perfeito.
E não é. Porque se fosse perfeito, não seria você.
E se não fosse você, eu não amaria.
Não há como amar alguém sem seu jeito, suas manias e seus erros.
Lembro de tuas palavras em vários momentos.
De tantos momentos, insuficiente fica minha memória. E permite que as lembranças rompam barreiras da minha mente e se desfaçam em sorrisos. Sorrisos incontroláveis.
Até mesmo quando são momentos ruins, me vejo esgotando-me em risadas. Porque, quando é possível amar, parece tão estupido ter momentos ruins.
No meu mundo de sonhos, és o elemento principal.
Pois não há sonho ou realidade que eu queira passar sem você.
Ouço sua risada como a música mais repetitiva da minha lista.
Fico vendo suas fotos como um album que eu queria que não terminasse e se prolongasse com minha vida.
Fico lembrando de nossos momentos como os melhores dias que me acontecem.
Lembro do seu olhar como o primeiro raio de sol de cada um dos meus dias.
Lembro do seu sorriso como a maior fonte de felicidade que já tive.
Ainda sonho com teus toques sendo ainda os ultimos de minha vida.
E se meus sonhos não se realizarem.. pelo menos um deles passou por mim.

Nostalgia indevida.


Uma pequena dose de gritos agonizando em silencio. São apenas sonhos.
Me arrepio.
Minha pele receia poros transbordando uma dor já conhecida.
Uma parte de nostalgia. Nostalgias de memórias indevidas.
Aperto minhas mãos em sinal de sufoco.
Me sufoco em controle.
Vozes aprisionadas, as ouço gritando em minha mente.
As ouço gritando minha alma.
Gritando em meu coração.
Silenciadas ao meu olhar de lembranças negras.
A escuridão rotineira vem conforme o sol que se põe.
Me pergunto tantas coisas. Me respondo com mais perguntas. Me perco em palavras. Me mato de pensamentos. 
Minha mente, minha doença, minha cura.
Desvio de direções, olhar lento. Movimentos angustiantes.
Mas é isso o que há. Angustia.
Mãos em impulso. Raiva, ódio, dores.
Numa guerra de um só, todos se ferem.
E penso naqueles sorrisos, agora distantes, tão instantâneos, a algum pouco tempo atrás. Tão leves, bonitos e espontâneos.
Belos, embora a cara de sono que me acompanhou de manhã.
E penso neles, enquanto a mais recente das lágrimas trilha minha face.

Rotina paralela.

Abro os olhos e desperto da cadeia de sonhos em que me pus. Levanto. Tonteira leve anuncia um novo dia.
Pode ser apenas mais um. Pode terminar incompleto.
Dos pensamentos desvio, mas eles mantém a insistência de me perseguir.
Nos primeiros repetitivos passos, me vejo. Me vejo, em tudo do que não passa de rotina.
O ar, arrogante que se faz, contorna minha silhueta, me dando apenas um pouco de si e então se vai, deixando que o calor faça pesar a vontade sobre meus ombros. Deja vú.
Abro a janela e deixo os mais suaves fantasmas entrarem. Observando o infinito azul, me mergulho num lugar de sonhos com a ilusão de olhos atentos.
Num lugar, onde sonhos nos fazem felizes e a felicidade é preservada. Algumas palavras desse mundo, escapam de minha boca, leves. Algumas emoções pouco mais intensas, que violam este lugar, correm por meu rosto.
Algumas histórias se traduzem em toques, se permitindo refletir na ponta dos meus dedos.
E então, sou retirada brutalmente de lá. Me obrigo a expulsar-me de paraísos. Para um mundo onde o paraíso ainda é uma questão. Onde sinto falta da vida que meus sonhos me são. Mas, ainda tenho no coração a certeza de que lá me recupero a alma em alguma hora, mais tarde.
Mãos entrelaçadas, um quase sorriso no canto da boca, respiro as ultimas forças.
Para poder enfrentar o resto do tempo.
Para poder fechar os olhos ou fechar o alheio.
E voltar a sonhar por dentro dos dias.

Arte de passos.

Viajo mentalmente por ruas desertas sem sonhos. Sem memórias. Alguns pesadelos dispersos, talvez.
Inocente, perdida, vejo multidões sem face e sem alma. Meu único refúgio é o meu interno.
Meu corpo, todo decorado de lembranças.
Olhos cheios de expectativas. Coração, de esperanças.
Alma, de mente e mente, de vazio.
Vejo olhos sangrando escuridão.
Pés sem rumo, procuro mil universos sem sair do lugar.
Caminho por estas ruas, por penumbras, me escondo por becos, a fim de alguma risada ilusória.
De vez em quando, sorrio. Mas o que há por dentro de mim não são sorrisos.
Caminhada de passos intermináveis, meus pés torturados, se deixam esvaecer a dores por cada calçada.
Se levam com a poeira. Mas sempre voltam aos meus passos.
Minha embriaguez de mascaras, me infiltro em qualquer lugar. Conheço um pouco mais daquilo que me injuria.
Já perdi de todos os sonhos, a chance de um dia feliz. Há muito tempo, sei de sua inexistência.
Mas do meu sonho que me segue, há sempre alguém com uma alma de sorrisos que me dá forças para eternidades sem identidade.
E então, sigo. Nessa arte de passos monocromáticos.
Me fazendo de pó, me desmanchando nas estrelas.
Sempre espalhada por aí.
Sempre por aí.

Oceano de tinta.

De um papel qualquer, extraio a minha vida em forma de lagrimas cor de tinta. Sem vida, se rasga. Sem vida, não é nada. Sem vida, não sou nada. Enquanto extraem de mim, a sensação de estar viva.
Oceano negro, te observo. Tu que carregas tantas canetas estouradas e borrões diluídos de corpos anônimos. Tão imenso, ainda é capaz de guardar a si tua vida, existência e pouco de tua pureza. Sorrisos estes, brilhos de perolas ao seu fundo.
E é a sua beira, que reflito e procuro minhas pérolas, então, furtadas.
Sinto o sol lentamente fulminar minha pele. É como uma das mais dolorosas das artes. Não importa muito a mim, se por dentro já me sinto em chamas.
Um vaso que carrega cinzas.
É só a casca com o que resta de mim. O que foi destruído e nunca será restaurado. Porque ninguém se importa. Mas eu também não.
Largada numa ilha para ser resgatada. Mas nem tudo é como queremos e fui posta a morte.
Membros e sentimentos amputados. Amaldiçoada por mim, para testar a minha capacidade, que não é pouca. Testar a mim mesma e o valor da minha própria vida.
Mas ninguém se importa.
E sem vida... nem eu.
Não quero. Não posso. Não vivo. Não morro.. não me importo.
Disseram dessas, as ultimas palavras da caneta que caiu de uma mão gélida, espalhando apenas mais uma mancha no oceano de tinta.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Uma.. nossa história.


A base de uma musica romântica, eu me pus a imaginar.
Uma dança num lugar calmo, qualquer.
Cada passo tão inocente, tão suave.
Seguindo aos poucos o ritmo.
O toque do teu corpo ao meu, uma vontade boba de recuar, então ignorada.
As melodias, palavras inertes espalhadas no ar apenas por olhares.
Aqueles olhares querendo desviar-se de timidez, mas ainda assim fixados.
Uma admiração, um desejo.  Corações maravilhados por estar segurando as mãos do paraíso.
Deslizar meus dedos sobre teu rosto, um sorriso de leve, um brilho nos olhos.
Meu cabelo caindo desarmonicamente sobre meu rosto. Sua mão levando eles ao lugar certo. Distancia se esvaecendo. Arrepios anunciando a presença. A junção de dois corações. Um toque de lábios tão mágico.
Eu voltei ao lugar onde nos conhecemos. Batizei nossas lembranças dos apelidos que nos demos.
Uma nostalgia.
Uma dor que me fez sorrir.
Quero teu olhar, quero tua presença.
Quero teu beijo, quero tua voz.
Quero sua letra em minha historia.
Quero sua invasão em meu particular.  Quero suas ilustrações em meu livro.
Seus rabiscos nas minhas paginas.
Sua mão na minha.  Sua presença em meus sonhos, em minha vida...
Nossas brincadeiras infantis, nossos sorrisos tão ingênuos escrevendo a mais linda história de amor que ainda espero por ler.
Qualquer brilho magnífico da lua, ou maravilhoso por do sol, não é nada especial se houver um lugar vago na platéia de tal espetáculo.
Suas palavras envergonhadas, sua presença tão pouca que seja, seus sorrisos suaves carregando o mais pesado dos brilhos fizeram minha alma voltar-se a vida.
Afundando em um oceano, seu toque me salvou. Sua respiração me deu o ar, que seu olhar me tirou.
E desde então, venho escrevendo muito lentamente e aos poucos um livro de muitos capítulos, mas de nenhuma cópia.
Meus planos reviram minha mente ao anoitecer, semeiam em minha face as mais gostosas das risadas.
Estou feliz. Por ter você. Em minha vida, em minha história.
História de muitos volumes, conflitos e reticências..
E espero que eu possa fechar este livro com o mesmo sorriso que comecei a ler.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Confortável.

Atormento meus passos, já não os sinto mais.
Mas um turbilhão de dores me desintegram por dentro. E não posso mostrá-los.
Não quero abrir a boca, pois posso gritar.
Não quero fechar os olhos, para não chorar.
Não quero abrir o coração, não quero sangrar.
Culpa dos teus atos, sou inocente.
Daquele liquido rubro que um dia correu, por um tribunal injusto de teus gritos que ecoavam em minha mente.
A dor sufocada em travesseiros, num quarto qualquer representando meu inferno.
E por onde passo, o mundo se desmancha em escuridão. Em vácuo. Em vazio.
Nada diferente, apenas não aparente diante de olhos cegos por agonia.
Cada toque, ruído me trazem o mais angustiante dos abismos.
As maiores quedas. As dores mais intensas. As mortes mais lentas.
E tudo isso, em silencio.
Me torturo afim do teu perdão. De voltar a suplica por um pouco de amor. Aquele inalcançável.
Me conforta essa rotina de dores. Me mata ter apenas a ela como opção.
As cicatrizes, as marcas. Todas passam.
Mas memórias me matam a cada segundo, até que eu seja apenas uma delas na mente de alguém qualquer.
Até minha imagem do espelho, parece querer que eu sofra.
Tudo me causa dor.
Vejo sorrisos e eles me doem.
Meus sorrisos me doem.
Será que estão zombando de minha dor? Será que estão felizes por causá-la? Será que querem derrotá-la?
E num horizonte de espaço extremo, tudo se desliga. Meu corpo do mundo. Minha alma do corpo. Minha mente de mim. E eu de tudo.

Apenas buscando um lugar confortável, para guardar tudo isso, aqui.