domingo, 18 de março de 2012

Psicopata apaixonada.


Observando seus passos, ela ficou lá, sentada.
Naquele bar, tomando o de sempre, observando.
E ficou pensando naquela conversa que tivera a alguns segundos atrás.
Observando sua imagem desaparecendo na esquina.
Já não queria mais tocar no seu cigarro, pois ele lhe dissera o quão era repugnante.
Largou o copo de whisky, seu preferido. Naquele dia, ela tinha outra preferencia.
Observadora e detalhista. Nunca esteve tão confusa.
Nem se lembrava do que conversavam.
Estava com a mente distante, observando cada detalhe seu. Respostas automáticas na ponta da lingua.
Aquele olhar tão lindo, aquele jeito grosseiro, aquela sinceridade irritante.
Aquelas atitudes inesperadas, as palavras tão novas, o previsivel tão imprevisível.
Passava o dedo no topo do copo de cristal. O cigarro ia queimando, as cinzas iam caindo.
E embora tudo parecesse tão normal, algo havia mudado.
Sentia uma angustia ao tê-lo perto. Uma dor ao tê-lo longe. E incrivelmente, não queria tirá-las de si.
Sendo ruim ou bom, era tudo tão perfeito.
Seu sorriso a acalmava, sua voz a irritava.
E o que era isso, ela não sabia. Essa questão que torturava em mente.
Seu corpo tão morto, sua alma monótona.
Sem sentimentos, ela nunca se importou. Não havia dor, não havia amor.
Sentimento era uma palavra que ela excluira de seu dicionário. Algo que excluíra de si.
Suas memórias eram tudo que lhe restava. Mas nada mais lhe interessava.
Seus dias de cor cinza, sua rotina tão chata. Mas ela não se importava.
E pela primeira vez se viu cheia do que não eram apenas pensamentos. Eram algo que lhe confortavam. Eram algo que a intrigavam.
Seu amor já causara tanta dor, tanto ódio, tanto caos. E uns pequenos arranhões a si. Dizia que o amor não era algo para ela.
Nunca gostou dessa história de sentir. Sabia os perigos. Nunca se importou com ninguém. Mas enfim, deixou-se levar.
A imagem dele. Do seu sorriso. Seu cheiro gravado na sua mão em gesto de despedida. Seu olhar cravado em sua mente.
E por mais que estivesse queimando-a por dentro, sua teimosia a impedia de admitir.
Mas era tão óbvio que irritava a si mesma.
Seus olhos se perderam na imagem que se perdera deles.
E na volta a si, o dia já não está mais lá. Todos se foram e um toque no ombro a acorda.
Recolheu sua bolsa, pagou a conta e se foi.
Seguindo os passos daquele individuo intrigante. Aquele ser, teu amado.
Carregando em um empoeirado coração, algo novo, uma emoção.
Retirada sua mesa, é sua imagem que desaparece na esquina.
E então as ultimas cinzas, do ultimo cigarro se permitem a queda.

sábado, 17 de março de 2012

Encruzilhadas do coração.


Desde, o patético momento em, que os olhares se cruzam jamais se separam.
Não importa o quando de ódio exista entre eles...
Não importa a distância que eles estejam...
É como uma fotografia, por mais que o tempo passe, ela continua do mesmo jeito, apenas envelhece...
Se eu pudesse parar o mundo, por uma hora, eu iria até você.
Se eu pudesse atravessar o tempo, para te ver dando seu primeiro sorriso, eu iria até você.
Se eu pudesse... Te ver chorando por amor pela primeira vez, eu iria te consolar.
Por que você está tão distante de mim?
Por que o mundo é tão cruel com meus sentimentos?
Eu te vejo sorrir para mim, então eu sorrio para você. No meio de tanta timidez, meu coração floresce o suficiente para te amar.
Queria poder pegar sua mão, e passear num parque em pleno frio. Apenas nós dois, de mãos dadas. E então eu te abraçaria. E daria um sorriso com meu coração. As flores mortas pelo frio dariam origens a novos botões. A grama congelada mostraria seu brilho. Então eu quebraria o frio, com meu ligeiro beijo em sua boca.
Nunca me deixe ir.
Ao menos que eu esteja seguro, que você ficará bem.
Estamos tão distantes. Você parece estar em outro universo tão distante... E eu em outra dimensão. Queria poder pular num buraco negro que caia no seu quarto, e lhe fazer uma surpresa: “Adivinhe quem é?!”
Queria ter a chance, de pelo menos uma vez, sentar do seu lado, e deitar no seu ombro.
Sentir o seu perfume.
De te ver acordar, do jeito que estiver. Sempre vou te olhar, e ver que tudo isso é meu! Somente meu.
E um dia farei tudo isso. Você foi o único que não tentou juntar meu coração com curativos... Você curou-o com seu amor.
Ei, eu te amo. Como as folhas do outono caem, meu amor por você é como uma árvore. Ele pode sempre ficar frio e sem folhas, mas depois de um período as flores, folhas e frutos renascem de uma árvore morta, e mostram sua luz ao mundo.

                                                                                       (Jho Brunhara)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ruas suicidas.


Entra. Fecha a porta e grita em almejo de liberdade mental.
Senta-se. Passa seus dedos trêmulos e os entrelaça nos cabelos por angústia.
Sua vida vai caindo a cada momento atormentador, num abismo sem fim com a dor de atingir o chão.
Na correria, pega algo e sai porta a fora.
De cabeça baixa, mãos nos bolsos, desacelera o passo. Sua vida em segundos reviram sua mente.
O telefonema daquela empresa que nunca chega, seus problemas, dores, acumulando e não ter onde deixá-los escapar.
Não ter pra onde escapar.
"O que está acontecendo?"
De canto dos olhos, se vê no seu sonho de infancia refletido no sorriso de uma criança.
Sorri. Mas o que há pela frente, é muita escuridão para pouca luz. Apaga-se o sorriso.
"O que está acontecendo?"
E por toda a cidade, anda com pernas quase se quebrando, dolorosas na intenção de flagelo, mas sendo diluído pelo brilho dos olhos de outros.
Os jovens que se amam, as crianças a correr. As risadas, os olhares apertados por sorrisos.
Tudo isso a conforta ao tempo que a mata.
Olha então para seus pés e realiza. Tinha seu unico objetivo de viver e fracassou. Deu a perceber sua, somente, existencia.
Se já estava no fim, só lhe restava o ultimo ato.
Se vê, então, numa rua sem saída. Se vê no fisico da sua vida. Rua deserta, palco vazio, siga a voz secundária do roteiro. Faça o que ela diz.
"O que está acontecendo?"
Pela ultima vez, seu protagonista, ainda confuso, repetiu.
Pegou sua passagem para o fim. Pôs levemente em sua boca e, com um barulho alto mas não tão estranho, tudo se desapareceu. Ainda se deu o ultimo sorriso.
E aquela frase que tanto ecoava em sua mente, logo, escorriam numa parede qualquer. Breve, entalhadas em uma pedra, talvez.
Um telefonema, boas noticias na ponta da lingua de alguém.
Batidas na porta de mãos que seguem flores.
Mas ela já não está mais em casa.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Perfume súbito.

Já não se faz mais livros como antes.
Os contos de fadas não tem mais seu roteiro e sua tradição.
Anos de passos de dança repetitivos e cetim jogados fora.
Já não se sabe onde mesmo se posiciona suas virgulas, suas reticencias ou pontos finais.
Não se sabe pra que servem e o que fazem as palavras.
As frases e suas lagrimas e sorrisos, acompanhantes.
O primeiro toque de mãos naquele lugar já não mais frequentado, olhando para aquelas paredes, aquela falta de ar alegre, a falta de palavras que tanto fala.
A essencia de tudo que já se passou.
No escuro, adormecida em memórias, apenas passo a lembrar, imaginando uma telepatia inexistente com o mundo que havia naquele tempo.
Revirando fotos uma por uma, que parecem cair tão lentamente quando as jogo pro alto.
E observo cada detalhe que não havia percebido naquele momento.
O batom que realça meu sorriso no rosto de alguém.
As loucuras, os extases, tudo aquilo que já se foi.
Que se foram os sorrisos, as palavras, as emoções junto com frases algumas desperdiçadas, outras valeram a pena.
Algumas estão no tumulo de alguém, outras está na mente de outra pessoa que forma uma nova vida. E tudo que já significaram estas palavras...
Aquele perfume que me lembrava você, porque te fazia lembrar de mim, até hoje sei que está na sua camisa e no meu frasco, não há mais quase nada de memórias..
Então quebro aquele pequeno frasco no qual se resta as ultimas gotas daqueles tempos. E então, passo os cacos na minha face e em meu corpo.. Para ter aquele cheiro de novo e me corto deixando meu sangue perfumado correr sobre mim, tão rápido como se foram aqueles dias...
E de volta ao chão, lentamente vejo minha identidade e minha história se espalhar.. Todo aquele sangue que correu comigo todas aquelas histórias.. Que horas ferveu e horas congelou.
Ninguém tem uma morte lenta e dolorosa.
Só estamos completamente mortos no unico momento em que o livro se fecha.
E de todos os momentos súbitos da minha vida...
...esse foi um dos mais emocionantes.

Coagulação.

Cortes na vertical, diagonal. A estrada pro sofrimento.
Cortes sobre histórias, cortes sobre lamentos.
Lágrimas a escorrer, e a formar um riacho de sangue.
Lembrar-se do motivo é o mais lamentável.
As palavras, lembranças e a dor cessam enfim.
Os cortes transcendem no pulso, o que um sorriso disfarça.
Não olhe para trás. Disfarcem os cortes, mas o rastro de sangue sempre fica atrás, seguindo-o. Quem dera tentar, novamente um pulso sem marcas, e um coração sem dor. 
Jamais imaginei que isto era melhor que sofrer, pois o sangue que escorre esvaece com as lembranças deixadas pelo sofrimento.
Os cortes ardem, e você a chorar. Esqueça o motivo. A lâmina no chão, o sangue a escorrer. Um perigo lhe aguarda.
Paraste enfim de chorar. Começa a adormecer.
Para alguns essa é só a primeira de muitas outras vezes, e para outros, essa é a última de muito sofrimento.
As lembranças esvaecem com as marcas deixadas em você.
Mas seu coração nunca esquece o que seus olhos viram.
Seu pulso cortado. Seu sangue a coagular.
Um olhar ingênua para quem pensa que foi só um machucado.
Uma dor intensa para quem agora, tem seu coração, por lâminas, marcado.

                                                                                                (Jho Brunhara)

sábado, 10 de março de 2012

Arrogância da Harmonia.

Como se cada sorriso sugasse um pouco de vida.
Como se meus gritos escapassem pelos meus poros.
Como se a dor fosse um passatempo.
Chega a um estágio de tanto ódio, em que o amor começa a queimar.
Como se tudo isso foi apenas mais uma brincadeira. Como se a dor me fizesse sorrir.
Quando sorrir me causa a dor.
Encolhida nesse canto, de roupas pretas e longas, me torturando mentalmente.
Faço de tudo para que essa sensação horrível passar, ao mesmo que ela me conforta.
Deixo que a água lave essa angustia, mas é como se ela não tocasse meu corpo.
Desviasse e evitasse de me curar.
Ouço músicas ao tempo em que qualquer ruído me enlouquece.
Meu telefone ao meu lado, uma esperança de uma ligação, só para ter a quem dizer que não quero falar com ninguém.
O observar daquele orvalho a escorrer numa folha, a impaciência de esperá-lo, o impedir de fazê-lo ir mais rápido.
Acho que todos nós precisamos de um pouco de dor. Para ter um pouco de história. Para ter um motivo pra sorrir algum dia.. ou uma razão pra nunca mais se fazer em lágrimas.
Não é como se fosse bom.. mas uma hora, chega a não ser tão ruim. Como uma rotina. Um rotina que inclue dores após sorrisos e vice-versa. E por não ter mais surpresas, já não há emoções. Já não se sente mais nada.
E estas palavras entaladas na garganta e esse sufocar da minha alma e todas as cicatrizes um dia, terão suas razões.
O correr do meu sangue nas minhas veias, o correr do meu sangue numa lâmina serão apenas lembranças.
E um dia, o meu sorriso vai esbanjar aquilo do que sugou.
Mas por enquanto, apenas convivo com minha rotina.
Apenas convivo com minha vida e futura história.
Apenas convivo com minha dor.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Cinderela desencantada.

Em mais um baile, sou barrada.
Por ser a unica sem uma mascara.
Unica com uma mente que funciona junto com uma boca, e sem nenhuma vontade de controle.
Por ser a unica diferente.
E não minto, ainda tenho vontade de fazer parte desse mundo.
De altas classes e almas baixas.
Mas não cubro minha mente, por eles considerada suja, por baixo de vestidos longos de cetim e brilhantes, acompanhados de uma carteira cheia do que eles mais tem: Falsidade.
São pagos com orgulho, mentiras, sorrisinhos estúpidos e uma falsa felicidade que eles conseguem ter como ninguém.
De terno negro para emagrecer o ego. De salto alto para disfarças o quantos são baixas. De mascaras pra esconder o que eles queriam ser. O que eu sou.
E enfim resolvo me render a este mundinho patético.
Vestido longo e preto, pra representar o luto pela pessoa que eu era e para esconder o quanto eu sou pé no chão. Eles não aceitam isso.
O salto alto, a maquiagem pesada, as mascaras que por mim, vagam sem me reconhecer. Para a guerra, estou armada.
Um sorriso falso, meu enfeite. Posso ser aceita, nesse baile de mascaras?
Em meus primeiros passos, sinto o frio daquele chão sujo de cristal.
E vejo você ali, sentado. Tomando um drink.
Seus olhos, visíveis por trás da mascara, parecem abrir portas para uma alma perfeita.
Seu toque delicado, seu jeito dócil de me chamar para dançar, suas risadas quando piso no seu pé, sua voz ao dizer meu nome, seu jeito de me olhar.
Percebo então, que você é mais um frequentador dessas festas de portas esnobes.
E já é quase meia noite, hora em que identidades se revelam.
E você é só mais um mascarado, que nunca vê o dia e as ruas por trás desses lustres.
E a alma que vejo, só está presa pelas grades de mais uma mascara.
Me despeço, dou uma ultima olhada naquele sonho preso e retiro minha mascara, como retiro minha pessoa dali.
E deixo então, aquele sapatinho que me machucou a noite inteira.
Para quando você sair por essas portas, saber qual sapato marcou o caminho que você deve seguir.
E por estas ruas então eu sigo.
E mesmo que não seja aceita de novo.. fui eu quem ganhou a guerra.

Apenas mais uma vez.

Uma vez, me disseram, que tudo o que vai volta.
Só me pergunto, questiono e tento, tento mesmo descobrir por que essa regra não se aplica ao amor.
De um olhar indiferente, em poucos instantes, úmido.
De um sorriso de porcelana, quebrado aos poucos por gotas escapadas de um coração que se rompe.
Apenas mais um coração.
Apenas mais uma vez.
Eu deveria saber disso.
Deveria saber o mal que me faria.
E quanto de sangue e vida iria me custar.
Na verdade eu sei. Mas quando dizem que o amor é cego, não brincam. E ele simplesmente não vê os perigos, armadilhas e buracos que cria a si mesmo.
Sangue e coração, vermelhos como paixão começam a ficar azuis como uma pedra de gelo.
Mas claro que sempre tem um inferno, para derretê-lo e nos queimar.
Apenas mais uma vez.
O tempo passa, e eu continuo tentando entender. E talvez eu morra assim. Se é que já não estou morta por dentro.
Meu corpo já não está comigo, minha alma já não sente mais nada.
Acho que isso é ser um anjo.
Olhar tudo lá de cima e não sentir nada, mas ainda ter piedade de quem a merece.
Chorando, chorando e quase que se mata ao chorar.
Apenas mais uma vez.
Chorando alto, alto, alto. Até que possa ensurdecer a todos na primeira lágrima.
E não ser mais escutada.
Mas afinal, de tanto que sofro, sou apenas mais um anjo. Tendo piedade de quem merece. Mas nem todos aceitam.
Mas porque eu deveria me importar, apenas mais uma vez?

Indiferenças reversas.


Há quem diga que respeita a diversidade. Mas há também quem não seja socialmente educado, ou simplesmente não tem o prazer de apreciar...
Contradições.  Sempre bem-vindas nesse mundo.
Numa sociedade padrão, anormalidades ou simples diferenças são algo inadmissível para sua crença ou aceitação.
Talvez os humanos evoluíram e desses  10% que usam do cérebro, passaram a usar menos. Talvez todos são daltônicos desnorteados e intolerantes a qualquer diferença ou defeito captado pelos olhos.
Incrivelmente desenvolveram a falsidade a exatamente tudo, e o ato de mentir não é mais um pecado, muito pelo contrário. Hoje em dia já que quem mente está no poder, o exemplo dado aos mais novos é tão intolerante e sínico quanto o que os exemplos estão dando aos mais novos.
Quem sabe a nossa realidade não foi cientificamente alterada e estamos todos sendo iludidos por capacetes especiais postos em nossas cabeças com chips que modificam nossa visão, olfato, paladar, tato e audição, e estamos vivendo num mundo tomado pela incompreensão da vida?!
E se simplesmente nada disso estivesse acontecendo e na verdade eu sou apenas eu numa realidade imaginária criada na minha onde vivo?!
Talvez o rumo do que falo tenha mudado, mas precisava dizer isso, para os desavisados da vida acordarem de uma vez.
Os humanos, num padrão comum, ignoram qualquer coisa inferior ao pensamento deles. Pouco se importam com o que está ao lado, frente, cima ou até em baixo deles. Ao menos que “isto” não os incomode.
Num mundo onde devíamos pensar em quem somos antes de tentar ser o que não há como escolha, acabamos indo por impulso, sem pensar no que aquelas palavras, aquele som tão diferente para outras etnias, países ou até planetas acaba mudando tanto o passado de um pretérito, mas tampouco um pretérito de um futuro.
Talvez o problema seja o presente. Se um milésimo atrás foi o pretérito, o próximo milésimo será o futuro. Diante disto podemos dizer que o que você vez ontem, na verdade numa contagem diferente continua sendo hoje. O tempo nunca acaba antes que você possa muda-lo. Um ano é pequeno comparado a um milênio. Podemos dizer nesse conceito que ainda estamos no presente deste milênio, e que só no milênio passado foi o pretérito que tanto falamos. Mas em contagens maiores talvez o nosso presente nunca tenha sido o presente e o futuro pode continuar sendo o passado enquanto o presente nunca existiu. Se devemos pensar no futuro para solucionar o presente, então para que há este intervalo?!
Num conceito totalmente estranho como a quadratura do círculo, com coisas tão lisonjeiras ou até maleficias, fica difícil distinguir entre duas pessoas totalmente iguais qual é a verdadeira.
Num quebra cabeça mental, os neurônios são as peças, mas depende de você montá-las ou não.
Lembranças diversas, cada som, cada cheiro, cada imagem... Vem-te a mente a cada momento em que uma peça é juntada. Sem imagem para te ajudar a montar, você tenta sozinho.
O resultado final é esplêndido! Todos adoraram a sua peça de teatro, todos estão aplaudindo de pé. Mas sempre haverá críticos apontando defeitos mesmo que tudo esteja mais impecavelmente possível.
Numa sociedade padrão... Ninguém é reconhecível.
Numa sociedade padrão... Nenhuma perfeição é cabível.
Mudanças? Já se foram a muito tempo. Diversas em vão, mas talvez algumas ainda andem por aqui.
Medo? Resta-nos em pé.
Numa caminhada contra a lei da gravidade. Num pensar da quadratura do círculo.
Onde os sentimentos lisonjeiros sumiram de vez.
Numa estampa acinzentada ouviu-se um barulho de uma caneta esferográfica colorida. Todos reconheciam o som e a cor. Mas não eram todos que queriam perceber. Enquanto as crianças ingênuas se aproximavam com suas roupas sintéticas, os mais velhos só arriscavam algumas olhadas rápidas. E então a luz do sol entrou sobre os vitrais acendendo a escuridão. Os passos de robô viraram os passos mais belos do mundo. Então as canetas criaram vida pintando tudo o que era cinza por ali. Ninguém estava preparado para isto. Fugiram, correram o mais rápido possível. Enquanto aos que resistiram, deliciavam com as cores.
Num livro onde não há gravuras, apenas a imaginação de uma criança pode fazer um simples livro virar outro mundo. Num lugar onde não há portas para um país distante, piratas em navios voadores e um buraco de coelho encantado a imaginação apenas fica quieta na sua mente.
Basta qualquer desfecho e sua mente cega abre os olhos. E então sua imaginação voa no ar.
Sonhar nunca foi demais.
E nunca será.

                                                                                      (Jho Brunhara)

O espetáculo.

Sem moral para está fábula, sem palmas para este espetáculo.
Levante-se, vaie, e vá embora.
As cortinas se fecham numa monotonia intrigante.
A cor do cinza a sufocar.
Pegue o que derrubou no chão, aqui não é lixo.
Guarde suas críticas para si mesmo, não dê sequer sinal de desapontamento.
Volte para a casa, e apenas pense.
Está deixando algo de valioso para trás?
Sonhe com este espetáculo.
Bailarinas voando pelo ar, fogos de artifício passeando pelo teatro...
Numa faísca, as cortinas pegam fogo.
Não se desespere, o espetáculo acabou de começar.
A adrenalina, a emoção, de ver a beleza se esvaecer em chamas, é o que te faz aplaudir, neste imenso vazio que o contém.
Não deixe seus olhos cessarem.
Fique em silêncio.
Apenas ouça a orquestra dos gritos.
Não deixe se levar por pensamentos fora do roteiro.
Não viu os avisos?! Não grite.
Mas algumas pessoas na platéia, fazem parte do espetáculo.
Um erro, um passo fora da linha e você cairá.
Veja o lustre. Em fogo.
Olhe para cima.
Mude de cadeira, volte a prestar atenção na peça que acontece.
Feche os olhos.
Não deixe as faíscas chegarem nele.
Se imagine a queimar, participando do seu show, do seu jogo. Tenha os teus tão nojentos aplausos.
Não respire.
Sinta as cinzas voarem. As pessoas aos seus gritos de desespero.
Não olhe para trás.
Veja o lustre a cair.
As cortinas incendiadas.
A peça ainda não terminou.
As bailarinas a se despencar.
Os mortos no chão.
E veja as cinzas te encobrirem como as cortinas iniciais que se fecharam.
Não levante, por favor.
Espere todos estarem mortos, e que tudo esteja bem.
Levante-se.
Não se importe com os ferimentos.
Aplauda.
E vá embora até que seja sua vez de fazer parte do show.
E não comente com ninguém.
Mas antes disso tudo, acorde.
Era um sonho.
Receber teus aplausos, com o teu ultimo sorriso com a crueldade de quem um dia estará no teu lugar.
E por fim, veja na perícia que o quê causou o fim da peça não foi os fogos de artifício, e sim a sua bituca do cigarro.
Finalmente, levante-se.
Aquele mesmo que pelas regras do teu show, te mandaram apagar.
Olhe apenas a diante.
Bata palmas.
Sente-se novamente.
E deixe o delírio das memórias, te matarem subitamente.
Subitamente, na mais lentas das torturas mentais.
A cortina ainda não se fechou.
Deixe as vozes te conduzirem, as histórias te fazerem.
A última cena é sua sepultura.
O quê há?
Nada.
Está realmente tudo bem?
Não há nada nem ninguém ali.
Você realmente não se importa?
Foi enterrado com as cinzas das cortinas que te estrearam.
Está tão orgulhoso de si, hipocrita, disfarçando tua dor com todo esse ego.
Costure seu paletó, e vá a outros teatros.
Exija que a costureira faça traços perfeitos.
Estúpido, não dê esmolas aos pobres.
Esplêndido, furte os mais ricos.
Seja a estrela da primeira pagina do jornal em trajes negros de luto.
Olhe ao seu redor, isso não lhe parece uma cova?
Por mais que grites, ninguém te escutará.
O destino fez o mesmo com ti, como fazia com outros.
E onde está o seu roteiro agora? Aquele cujas paginas se cansaram do mesmo protagonista.
E no fim, você é apenas mais uma estrela em cinzas. Apagada e perdida no seu próprio palco.
Rápido, fechem as cortinas!
Troquem o papel de parede!
Limpem as cinzas, ergam o lustre!
Escondam os corpos, e reformem o teatro!
Vamos dá-los mais sorrisos e enquanto nos matam sem saber.
O roteiro é o mesmo, só muda o personagem e o nivel em que se mata a história.
E numa lenda clássica, ainda podem-se ouvir gritos no teatro.
E apenas um homem a bater palmas.
E a rir do quê acabou de fazer.
Decapitado, e esquecido.
Feito de poeira, levado pelo vento.
Ele sabe o que tem pra você.
Naquele mesmo sorriso sarcastico em que se tomou em cinzas.
Aplaudam o espetáculo, ele acaba por aqui.
Depende de você mesmo, batalhar por teu personagem.
Ninguém recebe privilégios, a não ser que mereça.
Mas num padrão hipocrito, o gato vira rato, e o rato vira rei.
Mas ninguém irá lembrar de você, me desculpe.
Não queira ser o figurante, bancando o personagem principal.
Apenas mais uma mensagem:
Sorria, você faz parte desse espetáculo.

                                                                             (Mrs. J e Jho Brunhara)

terça-feira, 6 de março de 2012

Memórias.

Se para o coração,
Respiração vai devagar.
Memórias e lembranças
começam a me sufocar.

O meu sangue não mais corre,
já não consigo ver.
Procuro sua mão,
Onde é que está você?

Meus olhos se cerram,
Minhas memórias esvaecem,
Em imagens, palavras em flashes
que pouco a pouco desaparecem.

Minha veias paradas,
posso sentir meu corpo gelar.
Num organismo imaginário,
meu coração começa a palpitar.

Eu posso viver novamente,
mas não estou viva.
Se veem as memórias
de uma garota inofensiva.

E as vivo como cada dia fosse um minuto,
E tudo me vem novamente.
Da primeira respiração as cicatrizes.
Tudo e todos me vem a mente.

Ainda sufocada,
tudo posso ver.
Vivo e sinto tudo
mas ainda falta você.

Procuro tua mão novamente,
que costumava a minha a segurar.
De quem corria e brincava comigo..
e quem agora não sei onde está.

E se eu podesse te salvar,
de tudo faria.
E se não fosse melhor,
procuraria tua alegria.

E me deixo cair neste poço mental..
cheio de fotos e recortes de memórias.
E de colagens borradas e malfeitas..
Vivo pequenos momentos de nossa história.

Daquele tempo em que eu sorria,
e sonhava com tua presença aqui
Hoje olho para o céu e ainda me pergunto
se algum presente ou castigo, recebi.

De minha história, em tudo você fez parte.
E eu até posso dizer,
De todos os meus sorrisos e cicatrizes,
a mais importante foi você.

Com flores e cores, decorado
Me encontro no teu tumulo enfim.
Sem saber se como presente é estar aqui com você.
Ou se como castigo é estar com você aqui.