domingo, 18 de março de 2012

Psicopata apaixonada.


Observando seus passos, ela ficou lá, sentada.
Naquele bar, tomando o de sempre, observando.
E ficou pensando naquela conversa que tivera a alguns segundos atrás.
Observando sua imagem desaparecendo na esquina.
Já não queria mais tocar no seu cigarro, pois ele lhe dissera o quão era repugnante.
Largou o copo de whisky, seu preferido. Naquele dia, ela tinha outra preferencia.
Observadora e detalhista. Nunca esteve tão confusa.
Nem se lembrava do que conversavam.
Estava com a mente distante, observando cada detalhe seu. Respostas automáticas na ponta da lingua.
Aquele olhar tão lindo, aquele jeito grosseiro, aquela sinceridade irritante.
Aquelas atitudes inesperadas, as palavras tão novas, o previsivel tão imprevisível.
Passava o dedo no topo do copo de cristal. O cigarro ia queimando, as cinzas iam caindo.
E embora tudo parecesse tão normal, algo havia mudado.
Sentia uma angustia ao tê-lo perto. Uma dor ao tê-lo longe. E incrivelmente, não queria tirá-las de si.
Sendo ruim ou bom, era tudo tão perfeito.
Seu sorriso a acalmava, sua voz a irritava.
E o que era isso, ela não sabia. Essa questão que torturava em mente.
Seu corpo tão morto, sua alma monótona.
Sem sentimentos, ela nunca se importou. Não havia dor, não havia amor.
Sentimento era uma palavra que ela excluira de seu dicionário. Algo que excluíra de si.
Suas memórias eram tudo que lhe restava. Mas nada mais lhe interessava.
Seus dias de cor cinza, sua rotina tão chata. Mas ela não se importava.
E pela primeira vez se viu cheia do que não eram apenas pensamentos. Eram algo que lhe confortavam. Eram algo que a intrigavam.
Seu amor já causara tanta dor, tanto ódio, tanto caos. E uns pequenos arranhões a si. Dizia que o amor não era algo para ela.
Nunca gostou dessa história de sentir. Sabia os perigos. Nunca se importou com ninguém. Mas enfim, deixou-se levar.
A imagem dele. Do seu sorriso. Seu cheiro gravado na sua mão em gesto de despedida. Seu olhar cravado em sua mente.
E por mais que estivesse queimando-a por dentro, sua teimosia a impedia de admitir.
Mas era tão óbvio que irritava a si mesma.
Seus olhos se perderam na imagem que se perdera deles.
E na volta a si, o dia já não está mais lá. Todos se foram e um toque no ombro a acorda.
Recolheu sua bolsa, pagou a conta e se foi.
Seguindo os passos daquele individuo intrigante. Aquele ser, teu amado.
Carregando em um empoeirado coração, algo novo, uma emoção.
Retirada sua mesa, é sua imagem que desaparece na esquina.
E então as ultimas cinzas, do ultimo cigarro se permitem a queda.

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