quarta-feira, 7 de março de 2012

O espetáculo.

Sem moral para está fábula, sem palmas para este espetáculo.
Levante-se, vaie, e vá embora.
As cortinas se fecham numa monotonia intrigante.
A cor do cinza a sufocar.
Pegue o que derrubou no chão, aqui não é lixo.
Guarde suas críticas para si mesmo, não dê sequer sinal de desapontamento.
Volte para a casa, e apenas pense.
Está deixando algo de valioso para trás?
Sonhe com este espetáculo.
Bailarinas voando pelo ar, fogos de artifício passeando pelo teatro...
Numa faísca, as cortinas pegam fogo.
Não se desespere, o espetáculo acabou de começar.
A adrenalina, a emoção, de ver a beleza se esvaecer em chamas, é o que te faz aplaudir, neste imenso vazio que o contém.
Não deixe seus olhos cessarem.
Fique em silêncio.
Apenas ouça a orquestra dos gritos.
Não deixe se levar por pensamentos fora do roteiro.
Não viu os avisos?! Não grite.
Mas algumas pessoas na platéia, fazem parte do espetáculo.
Um erro, um passo fora da linha e você cairá.
Veja o lustre. Em fogo.
Olhe para cima.
Mude de cadeira, volte a prestar atenção na peça que acontece.
Feche os olhos.
Não deixe as faíscas chegarem nele.
Se imagine a queimar, participando do seu show, do seu jogo. Tenha os teus tão nojentos aplausos.
Não respire.
Sinta as cinzas voarem. As pessoas aos seus gritos de desespero.
Não olhe para trás.
Veja o lustre a cair.
As cortinas incendiadas.
A peça ainda não terminou.
As bailarinas a se despencar.
Os mortos no chão.
E veja as cinzas te encobrirem como as cortinas iniciais que se fecharam.
Não levante, por favor.
Espere todos estarem mortos, e que tudo esteja bem.
Levante-se.
Não se importe com os ferimentos.
Aplauda.
E vá embora até que seja sua vez de fazer parte do show.
E não comente com ninguém.
Mas antes disso tudo, acorde.
Era um sonho.
Receber teus aplausos, com o teu ultimo sorriso com a crueldade de quem um dia estará no teu lugar.
E por fim, veja na perícia que o quê causou o fim da peça não foi os fogos de artifício, e sim a sua bituca do cigarro.
Finalmente, levante-se.
Aquele mesmo que pelas regras do teu show, te mandaram apagar.
Olhe apenas a diante.
Bata palmas.
Sente-se novamente.
E deixe o delírio das memórias, te matarem subitamente.
Subitamente, na mais lentas das torturas mentais.
A cortina ainda não se fechou.
Deixe as vozes te conduzirem, as histórias te fazerem.
A última cena é sua sepultura.
O quê há?
Nada.
Está realmente tudo bem?
Não há nada nem ninguém ali.
Você realmente não se importa?
Foi enterrado com as cinzas das cortinas que te estrearam.
Está tão orgulhoso de si, hipocrita, disfarçando tua dor com todo esse ego.
Costure seu paletó, e vá a outros teatros.
Exija que a costureira faça traços perfeitos.
Estúpido, não dê esmolas aos pobres.
Esplêndido, furte os mais ricos.
Seja a estrela da primeira pagina do jornal em trajes negros de luto.
Olhe ao seu redor, isso não lhe parece uma cova?
Por mais que grites, ninguém te escutará.
O destino fez o mesmo com ti, como fazia com outros.
E onde está o seu roteiro agora? Aquele cujas paginas se cansaram do mesmo protagonista.
E no fim, você é apenas mais uma estrela em cinzas. Apagada e perdida no seu próprio palco.
Rápido, fechem as cortinas!
Troquem o papel de parede!
Limpem as cinzas, ergam o lustre!
Escondam os corpos, e reformem o teatro!
Vamos dá-los mais sorrisos e enquanto nos matam sem saber.
O roteiro é o mesmo, só muda o personagem e o nivel em que se mata a história.
E numa lenda clássica, ainda podem-se ouvir gritos no teatro.
E apenas um homem a bater palmas.
E a rir do quê acabou de fazer.
Decapitado, e esquecido.
Feito de poeira, levado pelo vento.
Ele sabe o que tem pra você.
Naquele mesmo sorriso sarcastico em que se tomou em cinzas.
Aplaudam o espetáculo, ele acaba por aqui.
Depende de você mesmo, batalhar por teu personagem.
Ninguém recebe privilégios, a não ser que mereça.
Mas num padrão hipocrito, o gato vira rato, e o rato vira rei.
Mas ninguém irá lembrar de você, me desculpe.
Não queira ser o figurante, bancando o personagem principal.
Apenas mais uma mensagem:
Sorria, você faz parte desse espetáculo.

                                                                             (Mrs. J e Jho Brunhara)

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